No último post dei-vos conta de dois exemplos (verdadeiros) de má gestão dos dinheiros públicos, coisa que, infelizmente, continua a acontecer um pouco por todo o país.
Hoje quero relatar um caso que presenciei. Eu estava lá e ouvi tudo aquilo que se passou.
Almocei num restaurante simpático, algures na Serra da Lousã. As instalações eram agradáveis, acolhedoras e podia-se desfrutar através das janelas largas uma bonita vista para a floresta. Por que era um dia de semana estava pouca gente, apenas um casal numa mesa e numa outra sentavam-me quatro homens. Fiquei na mesa ao lado deles.
Nem a vista da paisagem nem o prazer da gastronomia que nos foi apresentada me impediu de ir ouvindo o que se passava nessa mesa. Durante todo o repasto, os quatro senhores falaram sobre futebol, sobre as peripécias e intrigas em que os dirigentes de certos clubes andavam metidos, sem esquecer, naturalmente, os aspectos mais sórdidos. Falaram muito e falaram alto, riram bastante e o tema foi sempre o futebol. No final, já depois dos uísques (que repetiram), um deles pediu a conta, dizendo ao empregado que queria uma factura em nome do IFP (Instituto de Formação Profissional) com a indicação de 3 almoços de trabalho. De trabalho? Fiquei espantado, mas pior fiquei quando ouvi um dos presentes perguntar ao primeiro: “Vais meter isto (o custo com os almoços) em ajudas de custo ou em despesas de representação?”. “Não, nada disso”, respondeu o que ia pagar a conta. “Não te preocupes, hei-de encontrar uma rubrica …”
Deste “almoço de trabalho”, em que não houve qualquer trabalho, constatei como, à revelia dos propósitos anunciados oficialmente, o “sistema” – o malfadado “sistema” - continua a funcionar sem que alguém lhe ponha cobro. É um fartar vilanagem. E vai durar enquanto o plano oficial de contas e a falta de vergonha de muitos conseguirem encontrar uma rubricazinha pronta para albergar os desmandos.
PS: tenho a certeza de que a azia que senti toda a tarde nada teve a ver com a magnífica gastronomia da região.
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