Há muitos anos, fui funcionário público. Nesses tempos em que ser empregado do Estado era sinónimo de estabilidade, arranjavam-se empregos com alguma facilidade (não esquecer que muitos portugueses combatiam em África) mas os ordenados eram baixos e não havia as mordomias que foram conquistadas com a revolução de Abril de 1974. Por exemplo, as horas extraordinárias e o trabalho aos domingos e feriados não tinham qualquer percentagem adicional ao custo de cada hora normal. Recordo-me que antes do 25 de Abril ganhava 0,04 euros por hora e o mesmo preço se aplicava quando fazia umas horas extraordinárias ou trabalhava aos domingos ou aos feriados. Sim, porque aos sábados trabalhava-se sempre, as oito horas da praxe. Só bastante mais tarde alcançámos a semana-inglesa e, depois de Abril de 1974, a semana de cinco dias.
Recordo isto numa altura em que se tem vindo a assistir a uma quebra acelerada de tudo quanto foi conquistado. Depois de se terem alcançado patamares de remuneração e de condições laborais muito aceitáveis, voltámos a assistir ao trabalho escravo, sem vínculos, sem segurança, sem carreira, quase a troco de um prato de comida. Isto quando se consegue um emprego, o que, nos dias de hoje, já é uma bênção.
É que perturba-me não saber até quando poderemos viver com um mínimo de dignidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário