A recente (re)nomeação de Carlos Costa para Governador do Banco de Portugal leva-nos a reflectir sobre a natureza da política e dos políticos. Se bem nos lembramos das declarações que foram proferidas durante os trabalhos da recente Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES/GES ele foi acusado de ter sido brando e de não ter actuado da melhor forma em relação a Ricardo Salgado e ao BES. O Coordenador do PSD nessa comissão, Carlos Abreu Amorim, não o poupou e disse que a sua actuação foi muito grave. O mesmo Amorim que (depois de ter recebido instruções do Passos Coelho) veio agora afirmar que o mandato de Carlos Costa foi exemplar. Em que ficamos? Que moral pode um indivíduo invocar quando trai a sua própria palavra?
Claro está que não é posta em causa a legitimidade do actual Governo em fazer a nomeação. Embora, convenhamos, seja muito estranho que a faça a poucos meses das eleições e sem ter conseguido o acordo do maior partido da oposição que, eventualmente, virá a comandar em breve os destinos do país. Tanto mais que o PSD tanto tem falado ultimamente na necessidade de consensos. Como não está em causa a honestidade nem a competência de Carlos Costa. Apenas se esperaria que houvesse bom-senso quanto à oportunidade da renovação do mandato, para que não restasse qualquer dúvida de que não houve (como dizer isto?) um pagamento de favores pelo facto do Governador ter "dado o peito às balas" no caso BES, deixando de fora as responsabilidades que caberiam ao Governo.
O convite de Passos não deveria ter sido feito e, tendo existido, não deveria ter sido aceite. É que para além das dúvidas legítimas dos cidadãos, quer o Banco de Portugal quer, especialmente, Carlos Costa, partem para mais um mandato (que não vai ser fácil) numa situação de grande fragilidade.
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