domingo, outubro 12, 2008

Pobres contribuintes

Dado que não somos todos iguais é natural que, perante situações idênticas, as pessoas possam reagir de formas diferentes.

Se eu perdesse o emprego ou se a minha situação económica/familiar se degradasse de tal modo que não conseguisse vislumbrar qualquer luz de esperança lá no fundo do túnel, provavelmente ficaria muito deprimido e tentaria pôr em prática um plano rigoroso de redução das despesas.


Admito, contudo, que os executivos da área de seguros do Fortis, perante as dificuldades que o banco belga estava a atravessar, tivessem assumido uma reacção bastante diferente daquela que eu teria abraçado. E assim, por que a situação financeira do Fortis era mesmo muito má, de tal maneira que o banco teve que ser nacionalizado, acharam que a melhor maneira de lamentarem a crise que se tinha abatido sobre eles seria a de juntarem 50 pessoas para almoçar no prestigiado restaurante Louis XV, do Hotel Paris-Monte Carlo, o mais caro do principado do Mónaco. Refeição que ficou por uns módicos 150 mil euros, qualquer coisa como três mil euros por pessoa, o que, convenhamos, para quem atravessa uma situação tão má, nem é de todo cara.


O mesmo sentimento tiveram os executivos da AIG que, depois da Reserva Federal dos Estados Unidos ter injectado 85 mil milhões de dólares para que a seguradora não fosse à falência, decidiram “reunir-se” durante uma semana no St. Regis Monarch Beach, um luxuoso resort da Califórnia, onde gastaram quase meio milhão de dólares. Os quartos custaram 200 mil dólares, as refeições 150 mil, o SPA 23 mil e, espantem-se meus amigos, só no cabeleireiro “voaram” 1.400 dólares.

A verdade é que os executivos do Fortis e da AIG não se mostraram preocupados com as despesas absurdas que fizeram, justamente numa altura em que se impunha uma redução drástica dos custos.


Como disse, eu teria adoptado uma via diferente. Mas, claro está, eu sou eu, penso de forma diferente e, sobretudo, não tenho os contribuintes belgas e norte-americanos que “entraram com a massa” para aguentar estes colossos financeiros à beira da insolvência.

Fico é com curiosidade em saber o que é que esses contribuintes estarão a pensar desses excessos. Se isso acontecesse cá, podem ter a certeza de que eu ficaria muito furioso. Ah isso ficava.

Sem comentários: