domingo, fevereiro 15, 2009

Cartas de Amor

Embora com algumas horas de atraso não posso deixar de falar no dia dos namorados que se celebrou ontem.

Quero recordar o dia, mas não naquilo em que ele se tornou, uma mera troca de prendinhas para animar o comércio. Prefiro lembrar outros tempos quando os apaixonados faziam questão de exaltar o amor e o romantismo.

Para além de ofertas sem significado que hoje os namorados oferecem um ao outro, como que para assinalar a data e nada mais, seria bem melhor que continuasse a existir o sentimento de outrora, manifestado em cartas, bilhetes-postais e objectos simbólicos. Coisas, frases e poemas um tanto ou quanto românticos mas assumidamente “ridículos”.

Fernando Pessoa sublimou esse espírito no poema

"Cartas de Amor"


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
_________
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
_________
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
________
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
______
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
______
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
_______
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

1 comentário:

Anónimo disse...

Infelizmente o prazo de validade das cartas de amor já acabou. Em sua substituição aí estão as inebriantes e palpitantes mensagens e conversas de SMS e de Messenger.

E o romantismo, Deus meu, será que ainda se mantém?

Para os saudosistas, resta-nos a memória, os poemas (como esse do Pessoa que publicaste) e as canções que falam de amor (ridículo) como a que foi popularizada pelo cantor Francisco José e cujo refrão era

Cartas de amor
Quem as não tem
Cartas de amor
Pedaços de dor
Sentidas de alguém