O calor intenso que se fazia sentir por volta das quatro da tarde não convidava a visita ao Castelo de Silves. A rua de empedrado irregular sempre a subir mais sugeria que me acolhesse à sombra acolhedora de uma esplanada. Mas um sexto sentido empurrava-me para cima com a esperança de encontrar, quem sabe, alguma misteriosa moira encantada.
O meu primeiro encontro, porém, logo à entrada do castelo, foi com a estátua imponente de D. Sancho, segundo rei de Portugal, também conhecido como “O Povoador”, que em 1189 conquistou Silves aos mouros. Dizem os locais que a estátua que em tempos “morou” dentro do castelo foi colocada depois junto à entrada principal “por ele não pagar a renda”. Coisas do povo.
Enquanto admirava a figura altaneira de D. Sancho passaram por mim umas quantas pessoas. Deu para perceber que não eram turistas, tanto mais que usavam roupas com alguma formalidade e os saltos dos sapatos das senhoras, tão altos e tão finos, eram os menos indicados para pisarem aquele tipo de calçada.
Apesar de ao longo dos últimos quatro anos ter passado demasiado despercebido, reconheci imediatamente quem liderava o grupo, o Ministro do Ambiente Nunes Correia. Acalorados, dirigiram-se para a sombra de uns providenciais chapéus-de-sol ali “plantados” para cobrir umas quantas dúzias de cadeiras, um palanque de onde iriam ser proferidos uns discursos e uma mesa com o inevitável beberete, onde se viam vários tipos de bebidas e os imprescindíveis croquetes e similares.
Fiquei ainda um pouco junto dos pacientes motoristas dos carros oficiais, para tentar perceber o que se iria passar ali. Foi assim que ouvi parte do discurso inicial, dito pela senhora Presidente da Câmara Municipal. Primeiro foram as saudações às entidades presentes (que eram tão escassas que as tais dúzias de cadeiras foram ocupadas pela metade), logo seguidas de um palavreado mal dito, chato e longo. Apercebi-me que a cerimónia tinha alguma coisa a ver com o Programa Polis, o tal que foi tão criticado quando o inventaram mas a que todas as autarquias estendem a mão para dele poderem receber o dinheiro que lhes permitam modernizar e embelezar as suas terras.
Foi quando, entre um bocejo discreto e um limpar de rosto, uma brisa ténue me envolveu suavemente. Voltei as costas àquela plateia e dirigi-me de novo ao castelo. Enquanto subia, jurei que um dia que fosse ministro iria dispensar de bom grado aquele tipo de encenações e empadinhas. Passei por D. Sancho I, entrei no castelo e fui em busca das moiras encantadas.
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