O Algarve é das regiões onde nos meses de Verão o comércio se anima extraordinariamente e quase morre nos restantes. Sempre me lembro de ouvir dizer que os algarvios trabalhavam três meses no ano e descansavam nos demais. E a verdade é que ao longo dos anos fui conhecendo algumas pessoas que “se enchiam” em Julho, Agosto e Setembro e gozavam dos rendimentos até chegar a próxima época estival.
Tirando os exageros, até se percebe que o trabalho seja maior nestes meses, que se invista num esforço acrescido quando a população aumenta exponencialmente, que se tire, enfim, maior partido dessa situação e se repouse quando o alvoroço acaba.
É por isso que não entendo porque é que os vendedores de Bolas de Berlim – que não acabaram como muitos diziam ou quando a ASAE (parece que) pretendia – que toda a santa semana palmilham os areais a vender aquelas pequenas maravilhas a que poucos resistem, desaparecem, pura e simplesmente, aos domingos.
Eu sei que há direitos sagrados dos trabalhadores e que um deles é o de folgarem uma vez por semana mas, caramba, estamos a falar de três meses (no máximo) de um esforço suplementar. Será que alguém ficaria prejudicado por trabalhar um pouco mais nesta época? Tenho a certeza que nem os donos das fábricas e pastelarias que as fabricam, nem os empregados que vendem as Bolas se queixariam por mais umas horas extras. “Penso eu de que …”, como diria o boneco do Contra-Informação.
Tanto mais que constatei que nesses mesmos domingos em que não havia Bolas de Berlim nas praias, os africanos que povoam as ditas, vendendo óculos de sol, artesanato e bugigangas várias, lá andavam tentando vender aos banhistas o que, ao fim da tarde e noutros lugares, comercializavam em amplas exposições a céu aberto.
Nos mesmos domingos em que os chineses permaneciam firmes nas suas lojas desertas, de ruas igualmente despovoadas, à espera de um único cliente que fosse.
E os vendedores das Bolas, meus amigos, onde estavam eles? Mesmo considerando que até poderiam ter feito bom negócio naqueles dias, a verdade é que o domingo continua a ser sagrado. Provavelmente por uma questão cultural.
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