segunda-feira, junho 21, 2010

José Saramago

Morreu José Saramago. Se calhar para a maioria dos portugueses Saramago é, apenas (?), o primeiro escritor de língua portuguesa que recebeu o Prémio Nobel da Literatura. Por nunca terem lido qualquer das suas obras (de leitura e interpretação nem sempre fácil) e por nunca terem entendido o seu pensamento filosófico, a memória que terão dele será tão-somente a de um comunista puro e duro que, no pós-25 de Abril, foi implacável para com os seus adversários políticos.


Tanto mais que a imagem que se tinha dele era a de um homem arrogante, muito convencido de si, um tipo pouco ou nada simpático. Cruzei-me com ele uma vez, ombro a ombro, na Bertrand do Chiado e achei isso mesmo, que era um pedante de corpo inteiro. No entanto, quem o conhecia pessoalmente, considerava-o humilde e afável, sobretudo a partir de determinado momento da sua vida. Li hoje algures que “houve um Saramago antes de Pilar Del Rio, a esposa, e um outro Saramago depois e com Pilar”.


De qualquer forma nunca confundi o homem com a sua escrita. A sua obra - fundamental e reconhecida internacionalmente - ficará como a marca de um grande pensador e escritor.


Na última mensagem que Saramago escreveu no seu blogue, na véspera da morte, chamava a nossa atenção para a ausência de filosofia na sociedade, que traz como consequência a falta de poder reflexivo e, consequentemente, das ideias que diferenciam o homem dos outros animais.


“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma”.


Já num outro texto publicado no final da última semana, lembrava como é necessário “viver” a vida até que o fim da nossa existência chegue de facto.


“Acho que todos nós devemos repensar o que andamos aqui a fazer. Bom é que nos divirtamos, que vamos à praia, à festa, ao futebol, esta vida são dois dias, quem vier atrás que feche a porta – mas se não nos decidirmos a olhar o mundo gravemente, com olhos severos e avaliadores, o mais certo é termos apenas um dia para viver, o mais certo é deixarmos a porta aberta para um vazio infinito de morte, escuridão e malogro”.


Concordo com as palavras que a Ministra da Educação, Isabel Alçada, proferiu ontem quando se referiu à "luminosidade" da obra de Saramago, uma obra que, sublinhou, ficará para ser estudada e desfrutada por todos.

Sem comentários: