terça-feira, outubro 25, 2011

Tolerâncias

Uma das (más) características dos portugueses é a de raramente cumprirem horários. Ao contrário do que acontece com outros povos, para nós existe sempre uma margem para o atraso. A prova disso está – recordam-se? – na tolerância oficial de quinze minutos que antigamente (penso que hoje já não é assim) era uma prática dos funcionários públicos. Em vez de entrarem às 9 horas, chegavam até às nove e um quarto.

Aliás, ainda é frequente marcarem-se encontros, para as dez, dez e meia. Ora, isso não é uma combinação, ou se marca para as dez, ou para as dez e um quarto ou para as dez e meia. Entre as e as, é que não é nada. Ou antes, é falta de organização.

Há uns anos, quando a minha empresa foi reprivatizada, o presidente, homem do mundo e com outros hábitos, marcou a primeira reunião com todos os Directores para as oito da manhã. Claro que ficou esperando que as pessoas convocadas chegassem … a pouco e pouco e para além da hora agendada. Aqueles senhores estavam tão habituados às tais tolerâncias que não gostaram mesmo nada quando o presidente lhes disse, de uma forma firme e definitiva que, a partir daquele momento, as horas deveriam ser respeitadas. Segundo sei, nunca mais alguém chegou atrasado.

O mesmo se passou recentemente no dia da apresentação do Orçamento de Estado para 2012. O Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, no seu estilo pausado e rigoroso, começou a falar à hora aprazada. Quem não achou piada a esse “excesso de rigor” foram alguns jornalistas que iam cobrir o acontecimento e chegaram mais tarde.

Dir-me-ão: “Nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Pois sim, mas a condescendência para com os atrasados também tem limites.


1 comentário:

Fernando Gomes disse...

Bom dia meu bom Amigo,


Mais uma vez voltamos à questão da “Gestão”, neste caso, da gestão do tempo. Sem margem para dúvidas que somos péssimos gestores, e o não respeito pela hora marcada é um exemplo disso. No fundo, trata-se apenas de uma forma de organização e de gestão do tempo, mas ao que parece uma tarefa complicadíssima e quase impossível para o mais comum dos Portugueses. Se eu tenho um compromisso para as 9h da manha em determinado sitio, aquilo que tenho de fazer é me organizar de forma a poder estar no local à hora marcada, e para que essa tarefa seja realizada com sucesso, tenho de antever a que horas terei de me levantar, o tempo que levarei a arranjar-me e o tempo que passarei no trânsito (transporte colectivo ou pessoal), de forma a honrar os meus compromissos à hora marcada. Fácil, não? Penso que não é necessário ter um QI muito elevado, ou resolver alguma equação/fórmula matemática para conseguir chegar a horas. Confesso que a falta de pontualidade é algo que me irrita solenemente e que não compreendo, existindo até pessoas que fazem questão em chegar mais tarde aos encontros, pois assim é uma forma de chamarem à atenção, pois sendo os últimos a chegar são o alvo de todas as atenções. Agora respondam-me, como poderemos ser um povo evoluído, se a mentalidade vigente no nosso País é esta? Os relógios que trazemos no nosso pulso são cada vez mais objectos de decoração, pois pelos visto só servem para nos informarem que estamos atrasados e muito para além da hora marcada. Não admira que tenhamos chegado onde chegamos, pois se não sabemos gerir o nosso próprio tempo, como podemos gerir os dinheiros de terceiros, neste caso públicos? De facto, sofremos de um grande mal, não sabemos gerir nada, nem as nossas finanças, nem as dos outros e muito menos o nosso País. Pelo andar da carruagem, também teremos de chamar alguém de fora para nos ensinar a gerir os nossos horários. Parafraseando Jorge Palma “Ai Portugal Portugal, do quê que tu estás à espera, tens um pé numa Galera e outro no fundo do mar”.