quinta-feira, outubro 20, 2011

O cavalo do inglês



Conta-se que dois amigos britânicos conversavam sobre a “experiência científica” que um deles estava a fazer com o seu cavalo, a quem, a cada dia, dava um pouco menos de ração, sem que se reflectisse no seu desempenho. Porém, um dia, ao lhe perguntarem como estavam os resultados da experiência, o dono do animal, lamentou-se: “Aconteceu uma infelicidade, justamente quando o cavalo já quase não comia, caiu pró lado e... morreu”!!!

Temo que ao país venha a acontecer o mesmo que ao cavalo. É que continuo sem perceber, com as medidas de austeridade que têm sido anunciadas, como vamos conseguir gerar riqueza. De uma forma muito simplista, pode-se dizer que os cortes dos rendimentos (de salários, subsídios, etc.) provocam dois efeitos: um, as pessoas não conseguem poupar, dois, há retracção no consumo. Ora se não se gasta nas lojas, nos restaurantes, se não compram equipamentos, se não vão a espectáculos, enfim, se não há consumo, esses estabelecimentos começam por reduzir o pessoal e, muitos deles, acabam por encerrar portas. Com mais falências e mais desempregados o Estado fica com dois problemas nas mãos: por um lado deixa de receber as receitas provenientes dos impostos (IVA, IRS, IRC) e os descontos dos trabalhadores e, por outro, fica com um acréscimo de encargos, nomeadamente com mais subsídios de desemprego.

Ou seja, o Estado vê a sua economia a definhar. As receitas caem drasticamente enquanto as despesas tendem a subir por via dos encargos sociais. A não ser que estes últimos venham, também, a ser progressivamente retirados.

Outra coisa que me faz confusão, e também ainda não vi isso explicado, é porque é que os bancos não querem recorrer aos 12 mil milhões de euros que faz parte do programa de assistência a Portugal. Em princípio, essa verba destinar-se-ia ao financiamento das empresas e, dessa forma, a dinamizar a economia. Que motivo será esse?

Por isso digo que a recessão que o Ministro das Finanças prevê que possa alcançar 2,8% no próximo ano faz lembrar a história do cavalo do inglês. De tanta austeridade, o mais provável é que o país – sem a economia a funcionar – enfraqueça gradualmente e venha a morrer.


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