Continua em marcha o movimento de indignação originado pelas palavras de Cavaco Silva sobre a “mísera” pensão de reforma que aufere. E a população irritou-se de tal maneira que muitos milhares de pessoas assinaram já uma petição online a pedir a demissão do Presidente da República uma vez que consideram as suas declarações como “uma falta de senso e de respeito para com os portugueses”.
Demissão? Penso que não será caso para tanto. Não é a primeira vez que Cavaco tem sido infeliz com os discursos que faz. E não será a última, por certo. Cavaco, sendo um político (que o é, embora insista que não) tem frequentemente comportamentos demasiado simplórios (não confundir com simples) e que muito têm a ver com as suas origens. Ele é, genuinamente, um provinciano (no pior dos sentidos) e, por isso, em muitas das coisas que diz, as ideias e a forma de se expressar não estão devidamente trabalhadas.
Perante a “revolta do povo”, Cavaco Silva veio a terreiro justificar-se. Diz que foi mal interpretado, que não quis dizer exactamente o que disse e que, de facto, o que pretendia era mostrar que está ao lado dos portugueses com quem compartilha as dificuldades. Pior a emenda do que o soneto. Por um lado, Cavaco disse rigorosamente aquilo que entendeu dizer e, por outro, ele não está (nem pode estar) ao lado dos portugueses porque os portugueses não têm o mesmo nível salarial do Presidente e as dificuldades duns e doutro são certamente muito diferentes. Até acredito que os dez mil euros que ele recebe não sejam suficientes para pagar as despesas e que, por isso, tenha que recorrer às suas poupanças, mas a verdade é que a esmagadora maioria dos cidadãos tem pensões de verdadeira miséria e quanto a poupanças, pura e simplesmente, elas não existem.
O Presidente Cavaco Silva foi, uma vez mais, inábil no discurso. Tal como quando se referiu às vacas que se sentiam deliciadas na ordenha ou quando afirmou que a sua mulher dependia dele porque só tinha 800 euros de reforma. Cavaco Silva esquece frequentemente de que é o Presidente da República e que, por isso, as suas palavras deveriam ser devidamente pensadas quando ditas. Se agora quis mostrar toda a solidariedade pelos portugueses afectados pelas medidas de austeridade e pelos sacrifícios, o certo é que não conseguiu atingir esse desiderato. Ficou-se pela intenção, quando muito. Foi aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa designou por “querer marcar um penalty para a baliza e a bola ter saído para a bancada”.
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