A falta de um anexo do DEO – Documento de Estratégia Orçamental
(um novo PEC, mais coisa menos coisa) - suscitou um burburinho danado na
Comissão Parlamentar de Orçamento, Finanças e Administração Pública da
Assembleia da República, onde o Ministro das Finanças estava a ser ouvido.
O bruaá justificava-se porque, sem esses documentos onde são
feitas as previsões dos números do desemprego, não valia a pena continuar. E vá
de pedir a suspensão dos trabalhos até que chegassem os documentos. Que
chegaram algum tempo depois mas … em
inglês.
Gerou-se nova confusão. De forma veemente o Deputado Comunista
Honório Novo protestou: "Vou devolver-lhe estes quadros. Sabe
porquê? Porque este documento vem em inglês. Não aceito, não reconheço, recuso
que a Assembleia da República aceite como válido um documento em inglês".
E zás, devolveu-os mesmo à funcionária do Parlamento.
Vítor Gaspar, no seu tom habitual, educado e lento, ainda
pediu desculpa pela situação. E atirou como justificação (esfarrapada,
convenhamos) que os quadros estavam a ser traduzidos e que logo, logo, haveria
uma versão em português. De resto, disse ainda que os documentos em causa
poderiam ser consultados on-line.
Pelos vistos, a moda de comunicar em inglês, tão presente
entre os “Amigos” do Facebook, também já se estendeu aos documentos oficiais.
Dá até a impressão de que nos esquecemos que a nossa língua oficial é o
português. “A minha pátria é a língua portuguesa”, como dizia Fernando Pessoa. Por isso achei fantástica (e eu
assino por baixo) a atitude assumida por Honório Novo. Não há documentos em
português, então, não há discussão.
Tal como não me convence a mania que se instalou em muito boa
gente de remeter para os sítios da internet todos os que pretendem uma
informação. Estilo “vá ao nosso site, está lá tudo”.
Não se tratasse de Vítor Gaspar e eu quase que apostava que
qualquer outro apaniguado dos partidos do poder afirmaria que a culpa de tudo
isto é de José Sócrates e das suas manias de querer ensinar às criancinhas o
inglês e a informática.
Há limites para tudo e tem que haver bom senso. Porém, parece
que ambos andam arredios …
1 comentário:
Concordo em pleno com a atitude do Deputado que devolveu os documentos. Vivemos num País onde a taxa de reprovação nas disciplinas da Matemática e do Português é enorme. Os jovens não têm grandes hábitos de leitura, e de tanto navegarem na Internet e de mandarem sms pelo telemóvel, já adquiriram inclusive um vocabulário próprio. Se nós “Tugas” ainda insistimos em importar expressões estrangeiras, ou mesmo traduzir documentos para outra língua, nomeadamente o Inglês, qualquer dia ninguém saberá falar a língua de Camões. A confusão está a instalar-se, pois o novo acordo ortográfico ainda não está a ser respeitado pela generalidade das Organizações e mesmo pelas pessoas, existindo mesmo aquilo que os informáticos apelidam de “paralelo”, ou seja, existem em curso as duas versões, pois uns escrevem como antigamente, e outros escrevem segundo o novo acordo. Resumindo, está instaurada a confusão nesta pequena terra à beira mar. Estamos em Portugal, e como tal, devemos escrever, ler e falar em Português. A língua estrangeira é importante para comunicarmos, mas só em determinadas situações, e não devemos cada vez mais branquear a tão bonita e complexa língua de Camões.
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