Nos últimos tempos, quer nas entrevistas que concede quer nos debates na Assembleia da República ou nos lugares onde bota discurso, o Primeiro-Ministro não pára de surpreender os portugueses com declarações infelizes. Umas atrás das outras.
Ainda na última sexta-feira, Pedro Passos Coelho teve este notável desanrincanço: “o desemprego pode ser uma oportunidade para mudar de vida e não tem de ser visto como negativo”. Mais: “Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade».
Tal qual! E não me venham com a velha história de que não foi bem isso que ele queria dizer …
Já é grave que o PM pense assim mas, dizê-lo publicamente, é irresponsável e um acto de profunda insensibilidade. Saberá, por acaso, Passos Coelho o desespero por que passam muitas centenas de milhares de portugueses que querem trabalhar e não conseguem arranjar onde? E terá ideia qual será o sentimento de pais, avós mulheres/maridos que “vivem” também a angústia da procura incessante de emprego sem o conseguir? E o que pensará dos jovens à procura do primeiro emprego ou dos jovens que saltam de trabalho em trabalho sem a mínima segurança do dia seguinte e sem poderem sonhar com uma vida minimamente estável? E será que faz ideia do que sentem homens e mulheres de quarenta ou cinquenta anos que sentiram na pele a restruturação das suas empresas e o despedimento que não esperavam? Terá Passos Coelho a coragem de lhes dizer, olhos nos olhos, que o “desemprego pode ser uma oportunidade para mudar de vida e não tem de ser visto como negativo”?
Mas Pedro Passos Coelho não foi apenas leviano nas suas afirmações. Ele realmente pensa o que disse, tanto assim que, no dia seguinte, voltou a sublinhar “que o desemprego é também uma oportunidade. É preciso retirar o estigma do desemprego”.
Passos Coelho já em tempos nos tinha chamado piegas mas eu acho que, longe de sermos piegas, o que somos mesmo é revoltados. Indignados com um Primeiro-Ministro que – recordo - ainda há um ano considerava que uma taxa de desemprego de 12,4% era um valor extremamente elevado e que vai ver em 2012, segundo as previsões de Bruxelas, passar para os 15,5%. Será que é esta tragédia nacional que Passos Coelho considera uma oportunidade?
2 comentários:
Como comentário, transcrevo aqui um excerto do artigo de Daniel Oliveira, no Expresso : "...Há pessoas que tiveram uma vida difícil. Por mérito próprio ou não, ela melhorou. Mas não se esqueceram de onde vieram e por o que passaram. Sabem o que é o sofrimento e não o querem na vida dos outros. São solidárias. Há pessoas que tiveram uma vida difícil. Por mérito próprio ou não, ela melhorou. Mas ficaram para sempre endurecidas na sua incapacidade de sofrer pelos outros. São cruéis. Há pessoas que tiveram uma vida mais fácil. Mas, na educação que receberam, não deixaram de conhecer a vida de quem os rodeia e nunca perderam a consciência de que seus privilégios são isso mesmo: privilégios. São bem formadas. E há pessoas que tiveram a felicidade de viver sem problemas económicos e profissionais de maior e a infelicidade de nada aprender com as dificuldades dos outros. São rapazolas..."(Daniel Oliveira, in Expresso).
Olá meu bom e velho amigo,
É inacreditável como ainda existem pessoas que julgam que basta atirar areia para os olhos do povo, que o mesmo acredita em tais palavras e acata todas as decisões tomadas por quem tem poderes para tal. Ainda mais inacreditável e grave, é tais declarações ou acções serem proferidas e realizadas por alguém que neste momento é só o nosso Primeiro-ministro. De facto, os cargos públicos estão carregados de uma responsabilidade social muito grande, de tal ordem que, à semelhança do que acontece com outras profissões, só se deve falar daquilo que se sabe, correndo o risco de realizar declarações que são uma autêntica ofensa a muitas famílias. Cada vez mais estamos rodeados de figuras públicas, e algumas com responsabilidades sociais muito grandes, que se esquecem que o ser humano tem aquilo ao que os gregos chamavam “logos”, ou seja, têm capacidade de raciocinar e pensar pela sua cabeça, sem que haja alguém que o faça por eles. Nitidamente, aquilo que observo de há uns anos a esta parte, é a existência de grupos organizados que não fazem outra coisa que viver á grande e à Francesa, enquanto a maioria do povo Português luta por sobreviver e cumprir com todas as suas responsabilidades. Julgam eles, cientes da sua sapiência, que basta atirar alguma areia aos olhos do povo, que o mesmo fica cego e nem questiona porque deixou de ver. Subestima-se muito, sobretudo da parte dos Políticos, a capacidade do Povo para “pensar”, “falar” e “agir”. Talvez tenham alguma razão, pois reza a história que a única revolução que os “Tugas” fizeram foi com cravos, atingindo uma dimensão tal, que para qualquer estudante universitário, o 25 de Abril não passa de um simples Feriado. Têm muita sorte estes “Senhores Políticos”, pois se estas declarações tivessem sido proferidas por exemplo numa “Grécia”, o filme certamente seria outro. Como poderá Portugal evoluir, se quem tem as rédeas da governação do Pais é portador de uma mentecapta? Parafraseando o nosso amigo Jorge Palma “Ai Portugal, Portugal, o quê que estás à espera, tens um pé numa galera e outra no fundo do mar (devido a algumas mentecaptas).
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