segunda-feira, janeiro 26, 2009

Já se adivinhava

Não necessito de grandes esforços de memória para lembrar que até há poucos anos, o turismo algarvio era dirigido, preferencialmente, a ingleses, alemães e espanhóis. Também a franceses, holandeses, americanos e a mais uns quantos estrangeiros. Nunca a portugueses. Não raras vezes, experimentei na pele os péssimos serviços de restaurantes e hotéis e recordo-me que em várias ocasiões estive em restaurantes onde as listas do dia eram escritas em inglês, francês ou espanhol, porque não tinham uma só na nossa língua.

Ficava revoltado, claro, mas não havia volta a dar. Quando muito, resmungava com os meus botões, irritava-me com os empregados e, às vezes, acabava por sair para ir parar a um outro restaurante onde ia encontrar ementas semelhantes às outras, também escritas nessas mesmíssimas línguas.

Cheguei a sentenciar que um dia aquela gente teria que voltar a olhar para os turistas nacionais uma vez que esses estariam sempre por cá, enquanto que os outros não se sabia.

Mas por muito que eu imaginasse e desejasse que isso pudesse acontecer, nunca pensei que o mundo desse uma cambalhota como esta que estamos a viver. Só pretendia ser bem servido em Portugal e em português.

Até há pouco a parvoíce e a sobranceria que estavam bem patentes na hotelaria e na restauração algarvia tinham contaminado outras actividades, onde as línguas estrangeiras imperavam e os tugas eram olhados de soslaio.

Aliás, para aqueles que têm acompanhado os meus textos, recordo que em 18 de Outubro de 2006, publiquei aqui um post a que dei o nome de “Marca Portugal” onde me insurgia contra os comerciantes que expunham os seus produtos com letreiros apenas em inglês, sem que tivessem uma única indicação no nosso idioma, em que dizia nomeadamente

“… o que gostaria é que os portugueses evitassem a todo o custo este tipo de lojas. Lojas que por não terem respeito por nós, deviam ir à falência. Isso, deixem-nos falir, deixem que a estupidez dos seus proprietários dite o seu próprio fim. Comigo não contam nem que eles estejam a vender os artigos ao preço da uva mijona”.

Pois agora nem ao preço da uva mijona conseguem vender os seus produtos e serviços. As lojas já não têm os seus consumidores estrangeiros e os restaurantes e hotéis perderam os seus clientes de outros países. Muitos fecharam e o desemprego nestas áreas subiu brutalmente.

E a confirmá-lo eis que a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) divulgou esta segunda-feira os dados do turismo no Algarve em 2008, em que se constata que o balanço não é positivo, uma vez que se verificaram quedas em quase todos os indicadores. Registou-se uma baixa de visitantes estrangeiros e a despesa feita por quem nos procura é cada vez menor.

Chegou, então, a hora de voltarem a olhar para o turismo nacional. De fazer aquelas promoções fantásticas que foram direccionadas durante anos e anos apenas para os que vinham de fora. Ousem, agora, praticar preços mais atractivos para os portugueses e tratem-nos com o respeito e o profissionalismo a que temos direito. Pode ser que com essas campanhas consigam taxas de ocupação bem mais satisfatórias, de modo a viabilizar a manutenção dos postos de trabalho e das estruturas empresariais.

Já se adivinhava que esta reviravolta poderia vir a acontecer um dia. E não poderá ser de outra forma. Pelo menos, enquanto a crise económica e a incerteza continuarem.


1 comentário:

Anónimo disse...

Já há ministros que acusam os portugueses de não fazerem as férias em portugal, mais uma calinada, não estávamos a seguir os instintos do mercado! Sim o mesmo mercado que deixa agora no desemprego milhões! Enquanto alguns tubarões escapam com a massa, porque de facto o dinheiro não se evaporou, está na bolsa de alguns, poucos!

Todas as moedas tem duas faces o verso e o anverso.
Até a crise não escapa a essa definição. Como veremos, muitos irão cair, mas outros nascer, com novas ideias e novas práticas, que desejamos melhores e com Valores mais altos.