Apesar de ter nascido em berço de ouro, desde cedo Manuela deixou-se encantar com as viagens que fazia com a família a Badajoz para comprar caramelos. Ir ao estrangeiro nesse tempo, nem que fosse só para estar do outro lado da fronteira e ter mais uns carimbos no passaporte não era coisa pouca. Espanha e os espanhóis, apesar das dificuldades que eles atravessavam nessa época, eram uma atracção.
Manuela cresceu. Durante os estudos soube que uma corajosa padeira desancou à pazada os castelhanos em Aljubarrota. Tomou-a como exemplo e decidiu ser como a Brites de Almeida – a partir dali caramelos e espanhóis nunca mais.
Mais crescida ainda foi política e, sabe-se lá como (por acaso eu sei) um dia foi administradora de uma instituição espanhola que, não vendendo caramelos, vendia aquilo com que se compram os mesmos. A vida tem destas coisas.
Arrependida de ter arrepiado caminho, jurou que voltaria a perseguir os estrangeiros. Vociferou contra os cabo-verdianos e ucranianos e, só para disfarçar, chegou a fazer acordos (ela fez mesmo acordos e não “acórdos”) com os espanhóis para levarem a cabo uma coisa a que chamavam TGV, uma espécie de carros eléctricos mas que andam muito depressa e que, provavelmente, trariam os caramelos para Portugal num piscar de olhos.
Nessa altura, já pessoa importante e até Ministra das Finanças do país, afirmou que esse tal TGV era decisivo e importante para Portugal. Na célebre cimeira luso-espanhola que se realizou na Figueira da Foz ficou decidido que o TGV teria a construção de quatro linhas, tanto mais que esse projecto iria estimular a economia em 1,7 por cento do PIB (eu não sabia bem o que era isso mas o meu vizinho do lado, que é caixa num banco, explicou-me que esse PIB tinha qualquer coisa a ver com a riqueza produzida, ou lá que é).
Vejam bem as voltas que a vida dá. Ela não gostava dos espanhóis mas fez-me amiguinha deles só porque é gulosa e porque queria que os caramelos viessem a ser vendidos (rapidamente) em Portugal.
Mas arrependeu-se, fez birra, zangou-se mesmo. Ontem, ouvi a Senhora Doutora Manuela dizer na televisão que já não quer o raio do TGV e que se está nas tintas para os espanhóis. Só não falou nos caramelos.
Desconfio que anda a fazer dieta.
2 comentários:
Desta bez fiquei mesmo preocupado, com o bosso comentáiro! Não sei se é da caligráfia ..., mas nós os Caramelos, não gostamos de ser comidos, nem por piquenos, nem muito menos por parbos, in parece que a aquela senhora estará a pinsar nisso. Ela não sabe com quem se está a meter ...
Aqui na Caramelandia não gostamos lá muito da belocidade com que bai passar o carro eléctreco, ou lá o qué isso. E ainda por cima, pra começar, a RABE já por i anda a falar nas exprópriações, inté me bai infectar por causa das malhadas dos bácros e da courela das coubes !
Bamos ber se éla num é combidada prá inaugração da ponte aqui na Caramelandia.
Meu caro Vexata
Não tenho o prazer de conhecer a Caramelandia mas, creia, compreendo bem as suas inquietações. No entanto, consta que a Dr.ª Manuela só gosta de degustar os caramelos, os doces, aqueles que se enrolam por debaixo das próteses dentárias e não dos Caramelos, os genuínos, os naturais da sua lindíssima Caramelandia. Espero tê-lo sossegado.
Cordiais cumprimentos e saudações aos seus “bácros” e couves.
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