Ainda embalado pela ironia do poema que publiquei no último post, achei que seria bom acabar esta semana bloguística com um registo de humor refinado, inteligente e, neste caso, espontâneo.
Vou recordar uma história verídica.
Em Março de 1982, o Deputado do CDS João Morgado, defendia durante um debate parlamentar sobre a despenalização do aborto até às 12 semanas o seguinte:
“a posição que defendo em relação ao aborto é exactamente igual à posição da Igreja Católica que proíbe o aborto porque entende que quando se pratica o acto sexual é para se ver o nascimento de um filho …”
Natália Correia, poetisa, intelectual, activista social e mulher inteligente, então Deputada do PSD, espantada com o que tinha ouvido, debruçou-se sobre a bancada e, logo ali no hemiciclo, tratou de escrever um poema que ficou célebre:
O acto sexual é para ter filhos – disse ele
já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –
uma vez. E se a função
faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa excepção
ficou capado o Morgado.
1 comentário:
Epá, também sei elogiar.
Gostei muito deste poema e do anterior.
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