Não tivesse o caso contornos que podem revelar-se muito graves e que têm a ver com a liberdade de expressão, diria que esta é mais uma manobra que serve para nos distrair da periclitante situação em que se encontra o país.
Mas o que aconteceu merece a devida reflexão. Um jornalista (Mário Crespo) escreveu um artigo de opinião sobre uma conversa que decorreu num restaurante entre o Primeiro-Ministro, dois outros Ministros e um alto funcionário da SIC em que, alegadamente, terá sido dito que Crespo seria um "débil mental" e que constituiria um "problema" que tem de ter "solução".
Essa crónica devia ter sido publicada na segunda-feira no Jornal de Notícias e não foi. Por censura? Por falta de contraditório? Não sabemos, o curioso, porém, é que o JN não quis publicá-la mas a crónica acabou por ser tornada pública, aparentemente sem o autor saber disso, nos sites do jornal Público e no do Instituto Sá Carneiro que é do PSD. Ele há coincidências …
Coincidências à parte, a verdade é que a conversa decorreu em privado e o que lá foi dito só foi “ouvido” por terceiros. Não existem provas que confirmem o que quer que seja.
Assim, não é de estranhar que as dúvidas surjam de todos os quadrantes.
Por um lado, sabe-se que o prestígio de Mário Crespo foi conquistado por ser um jornalista competente e sério. Eu próprio gosto da maioria dos seus trabalhos e considero-o independente. No entanto, temos que reconhecer que ele tem sido nos últimos tempos muito crítico em relação ao governo socialista e ao seu líder.
Por outro lado, ninguém esquece os casos recentes de alegado silenciamento da comunicação social – dirigidos a Manuela Moura Guedes e José Manuel Fernandes - em que, suspeita-se, tenha havido o dedo de Sócrates que, é voz corrente, lida muito mal com as críticas da comunicação social.
E o Governo a “este processo de intenções” responde simplesmente que “não se ocupa de casos fabricados com base em calhandrices". As tais calhandrices!
Enfim, enquanto se espera pela reunião do organismo regulador dos media (a ERC) que vai discutir hoje, quarta-feira, a posição a tomar face ao artigo de Mário Crespo com acusações ao Governo, a fogueira vai crepitando com alguma intensidade.
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