Antes que comecem a fazer juízos de valor, devo esclarecer que tenho o maior respeito pelos animais e penso – sinceramente – que os ditos têm todo o direito a terem as melhores condições de vida. Acho mesmo que devemos pugnar pelo bem-estar de todos os animais, mesmo por aqueles que servem apenas para serem abatidos para a alimentação humana.
Mas, às vezes, parece-me que se exagera um bocado. Não sei se sabiam mas desde o início do ano entrou em vigor uma directiva europeia que estabelece que cada galinha tem que ter, só para seu uso, um espaço mínimo de 750 cm² de superfície da gaiola, além de um ninho, uma cama, poleiros e dispositivos adequados para desgastar as garras, que lhes permitam satisfazer as suas necessidades biológicas e comportamentais. Sem qualquer cinismo, digo que me parece bem tanta preocupação com o seu bem-estar. As galinhas precisam de espaço e de tranquilidade para pôr ovos.
Porém, e desculpem lá o meu desabafo, parece que não existem outras preocupações, se calhar bem mais graves, que afectam os cidadãos. Sei lá, estou a pensar, por exemplo, na forma como resolver o desemprego crescente, na fome que grassa por aí ou na degradação da vida das pessoas por essa Europa fora. E para o combate a estes flagelos não vejo que a Comissão Europeia tenha tantas preocupações como aconteceu agora em relação a estes desvalidos 47 milhões de galinhas europeias.
Como costumo dizer, uma coisa é uma coisa e uma outra coisa é uma outra coisa. O pior é que, a acrescer aos milhões de problemas que já tínhamos, com esta questão das galinhas-VIP, ficámos “debaixo de olho” da Comissão Europeia porque os galinheiros portugueses não oferecem as condições desejadas e estamos em risco de sofrer uma pesada multa.
Já sabíamos que os cidadãos nacionais andam aflitíssimos para se conseguirem aguentar, mas isso é um problema nosso. Agora, as galinhas portuguesas não andarem a ser bem tratadas, alto lá e pára o baile, Bruxelas apressou-se a manifestar a sua preocupação.
O que faz feliz uma galinha? Esta é a grande questão do momento.
2 comentários:
Não sei como se pode preocupar com o aumento do desemprego ou dos impostos, quando no mundo há milhões de pessoas a morrer à fome.
Já sabíamos que em muitos países há pessoas que morrem de fome ou torturadas, mas isso é um problema deles. Agora, pagarmos mais um porcento de IVA, alto lá e pára o baile, nós apressamos-nos a manifestar a sua preocupação.
Espero que compreenda a analogia. A abordagem: não nos devemos preocupar com isto porque há um problema maior, é sempre uma boa desculpa para não fazer nada.
Caro Anónimo, provavelmente expressei-me mal. Se calhar, a exemplo do que aconteceu com o Senhor Presidente da República, terei escrito (na sua leitura pelo menos) algo que eu não queria dizer de todo. Porém, concordo consigo em que a lógica de “não nos devermos preocupar com um determinado problema porque há um problema maior e isso constituir uma boa desculpa para nada se fazer” é absolutamente inadequada. O que se deve, isso sim, é trabalhar mais e melhor de modo a serem superados todos os problemas que afectam as sociedades. E se não for possível ao mesmo tempo (talvez fosse exigir demais) pelo menos ter a capacidade para escolher as prioridades certas. E, neste caso, Caro Anónimo, se eu fosse poder, decidir entre resolver os problemas das pessoas e os das galinhas, sem dúvida alguma que escolheria as pessoas. Sem prejuízo dos direitos dos animais (que defendo), admito que sou muito mais sensível aos direitos dos humanos.
Um Abraço
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