Há muito que se sabia que o “novo acordo ortográfico” iria trazer vantagens para alguém. Não era, certamente, a uniformização da escrita portuguesa que motivava os mentores de todo este processo. Ainda por cima para obrigar países que, embora tenham o português como língua oficial, são habitados por milhares de pessoas que não sabem escrever nem falar a língua de Camões. Adivinhavam-se os interesses inconfessados de alguns, só não se sabia bem que tipo de interesses eram esses e a quem se destinavam. Pois agora eles foram postos a nú pelas palavras (que transcrevo, com o devido respeito, do blogue “Fio de Prumo”) de Charles Kiefer, um conhecido escritor brasileiro.
"... No entanto, no campo estratégico, nos movimentos de longo prazo, o Brasil terá grandes vantagens, tanto que os outros países da CPLP resistiram por mais de uma década ao acordo. Mas quais são essas vantagens estratégicas? A primeira delas, e talvez a mais importante, é a possibilidade de o Brasil conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Em que sentido, indagarão os céticos? O que a unificação científica tem a ver com o CS? Ocorre que, com a unificação, os falantes de língua portuguesa serão aumentados bastante, já que se somarão os habitantes de todos os oitos países. Hoje, na hora de se produzirem documentos, há uma torre de babel entre os nossos países. São clássicas, e cómicas, as situações na ONU na hora das atas, dos documentos, das produções de acordos comerciais em que o funcionário do órgão pergunta: Escreveremos em português de Portugal ou do Brasil? Após o acordo, toda a documentação será exarada num mesmo sistema ortográfico. Isto, para efeitos práticos e legais, significará que o português unificado representará mais de 250 milhões. Como o Brasil é o país económica e populacionalmente mais poderoso do conjunto da CPLP, nossas chances de ingressar no CS aumentam exponencialmente. Se algum brasileiro supõe que ombrear com EUA, Rússia, França e Inglaterra não tem importância política, económica, social e histórica deveria fazer, urgentemente, um cursinho de Direito Internacional. Fazer parte do Conselho Permanente da ONU ajudará até ao vendedor de pipocas da esquina, ao plantador de laranjas, ao professor universitário, à empregada doméstica. Até os grevistas do Cpergs terão melhores argumentos ao defenderem melhorias salariais aos que professores que ensinam uma das mais importantes línguas do planeta. A segunda vantagem estratégica do Acordo Ortográfico é que ele torna o Brasil o maior fornecedor de bens e serviços ligados aos setores de comunicação, educação e informática dos oitos países. Dados preliminares anunciam algo em torno de 400 milhões de dólares por ano em ganhos diretos para o avançado parque editorial brasileiro, por exemplo. Dos oito países, o Brasil tem as editoras mais poderosas, as maiores e mais avançadas gráficas, o melhor e mais competente parque industrial na área dos produtos informatizados. Se eu fosse um escritor moçambicano ou português, faria passeata contra o acordo! Mas sou brasileiro e por isso não me filio ao partido dos descontentes, dos críticos e de todos que acreditam que língua e poder não são coisas que se conjugam".
"... No entanto, no campo estratégico, nos movimentos de longo prazo, o Brasil terá grandes vantagens, tanto que os outros países da CPLP resistiram por mais de uma década ao acordo. Mas quais são essas vantagens estratégicas? A primeira delas, e talvez a mais importante, é a possibilidade de o Brasil conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Em que sentido, indagarão os céticos? O que a unificação científica tem a ver com o CS? Ocorre que, com a unificação, os falantes de língua portuguesa serão aumentados bastante, já que se somarão os habitantes de todos os oitos países. Hoje, na hora de se produzirem documentos, há uma torre de babel entre os nossos países. São clássicas, e cómicas, as situações na ONU na hora das atas, dos documentos, das produções de acordos comerciais em que o funcionário do órgão pergunta: Escreveremos em português de Portugal ou do Brasil? Após o acordo, toda a documentação será exarada num mesmo sistema ortográfico. Isto, para efeitos práticos e legais, significará que o português unificado representará mais de 250 milhões. Como o Brasil é o país económica e populacionalmente mais poderoso do conjunto da CPLP, nossas chances de ingressar no CS aumentam exponencialmente. Se algum brasileiro supõe que ombrear com EUA, Rússia, França e Inglaterra não tem importância política, económica, social e histórica deveria fazer, urgentemente, um cursinho de Direito Internacional. Fazer parte do Conselho Permanente da ONU ajudará até ao vendedor de pipocas da esquina, ao plantador de laranjas, ao professor universitário, à empregada doméstica. Até os grevistas do Cpergs terão melhores argumentos ao defenderem melhorias salariais aos que professores que ensinam uma das mais importantes línguas do planeta. A segunda vantagem estratégica do Acordo Ortográfico é que ele torna o Brasil o maior fornecedor de bens e serviços ligados aos setores de comunicação, educação e informática dos oitos países. Dados preliminares anunciam algo em torno de 400 milhões de dólares por ano em ganhos diretos para o avançado parque editorial brasileiro, por exemplo. Dos oito países, o Brasil tem as editoras mais poderosas, as maiores e mais avançadas gráficas, o melhor e mais competente parque industrial na área dos produtos informatizados. Se eu fosse um escritor moçambicano ou português, faria passeata contra o acordo! Mas sou brasileiro e por isso não me filio ao partido dos descontentes, dos críticos e de todos que acreditam que língua e poder não são coisas que se conjugam".
Para quem ainda tinha dúvidas, acho que este texto é suficientemente esclarecedor.
4 comentários:
A verdadeira razão?
"Ocorre que, com a unificação, os falantes de língua portuguesa serão aumentados bastante"
O acordo vai aumentar os falantes de português? Óptimo! Nem o mais acérrimo defensor do acordo ainda se tinha lembrado de esgrimir este argumento.
"Após o acordo, toda a documentação será exarada num mesmo sistema ortográfico. Isto, para efeitos práticos e legais, significará que o português unificado representará mais de 250 milhões."
O Brasil passa de ter perto de 200 milhões de pessoas a escreverem o português do Brasil para passarem a ter 250 milhões a nível mundial a escreverem português unificado.
Portugal passa de ter 10 milhões de pessoas a escreverem português de Portugal para passar a ter 250 milhões a escrever português unificado.
Parece-me que Portugal tem mais a ganhar neste campo que o Brasil. Sem acordo, a existir uma ortografia do português a impor-se internacionalmente, seria a do português do Brasil.
Mas que português unificado? Que fenómeno (ou fenômeno?) seria esse em que "exceção" se escreveria assim em Portugal e excepção no Brasil, isto multiplicado por mais alguns milhares de palavras...
Compreendo que se sintam incomodados com o texto, revelador. O Autor (que é professor universitário e há poucos meses ganhou um importante prémio de ensaio...) reproduz o sentimento do ministério dos negócios estrangeiros brasileiro: a possibilidade de o Brasil se apresentar como representante de um bloco linguístico, que lhe daria o que, por si, não conseguiu.
Por isso Cavaco falou nas "pressões no Brasil" para a aprovação do «acordo», como se fossem questões de ortografia - coisa de somenos, aliás, como afirmam...) que impedem o Brasil de ter o almejado - e inexistente - lugar que dependerá de outros contos bem diferente e bem mais realistas... e onde países como a Argentina e o Chile, terão bem mais a dizer do que Portugal.
Mas acrescente-se a esta birra a crença (em parte maçónica) no estado mundial e em mofentos quintos impérios e obtém-se o mau caldo que querem substituir ao bom caldo verde... praticando, à revelia dos Povos, um crime cultural de uma grandeza inédita na história da humanidade.
Caro Anónimo do segundo comentário, passo a citá-lo:
"Mas que português unificado? (...) Compreendo que se sintam incomodados com o texto"
O senhor (ou senhora) é que está incomodado com o texto, pois é este que fala em "português unificado". Aliás, toda o texto é sustentado em torno desse argumento, sobre o que o Brasil ganha em haver 250 milhões a escreverem em "português unificado".
O acordo incomoda-me muito enquanto grave crime de genocídio cultural que é. E incomoda-me mais que seja cometido ao serviço de lorpas ambições de um país estrangeiro.
Quanto à sandice da "unificação" é isso mesmo.
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