Não vou jurar que é exactamente como me contaram mas sou levado a pensar que a coisa não andará muito longe disso.
Recentemente a RTP promoveu uma enorme campanha a favor das vítimas do temporal da Madeira, que se desenrolava em vários módulos. Um deles era através de chamadas telefónicas em que os participantes pagavam 0,60 € mais IVA. No total desembolsavam 0,72 € por cada chamada. Até aqui nada a dizer. É uma iniciativa louvável e participou quem achou que devia fazê-lo.
O que, no entanto, alguém parece ter esquecido de dizer é que o donativo propriamente dito era apenas de 0,50 €. Ou seja, do custo total das chamaditas deram-se 0,50 € a quem deles necessitava, a PT ficou com 0,10 € e o Estado foi buscar 0,12 € do IVA.
E é neste ponto que as dúvidas me inquietam. Numa campanha deste tipo, que visa a solidariedade, não deveriam a PT e o Estado dispensarem as verbas respeitantes às comissões e aos impostos? É que não me parece aceitável que ambos auferiram lucros adicionais com as chamadas que nunca seriam efectuadas, se as campanhas não se realizassem.
A ser verdade a versão que me foi transmitida, o montante doado atingiu dois milhões de euros mas, ao mesmo tempo, a PT ganhou quatrocentos mil euros e o Estado arrecadou quatrocentos e oitenta mil euros.
Bem podem argumentar que a Portugal Telecom poderá ter desenvolvido, em paralelo, outras acções de solidariedade para com a Madeira e que o Estado fez um esforço adicional estabelecendo protocolos para ajudas extraordinárias à Região Autónoma. Aceito que sim. Mas, em circunstâncias como estas, em que a solidariedade e a generosidade dos cidadãos se expressam de modo tão genuíno, penso que o ideal seria que a doação fosse directa e inteirinha para a finalidade em vista. Ou não será?
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