Ontem, quando escrevia sobre as dificuldades sentidas pelos cidadãos para conseguirem trocar de carro, estava, evidentemente, a referir-me àqueles que ainda vislumbram um horizonte onde vão cabendo alguns “luxos”, como esse tão banal de ter um carrinho novo.
Hoje a minha atenção recai naquela imensa faixa da população que sente na pele os enormíssimos apertos da crise económica que nos apoquenta, que já não consegue suportar o custo das necessidades básicas, e nomeadamente, o da compra de alimentação. Estou a pensar nas 280 mil pessoas que têm que recorrer ao Banco Alimentar.
Em 2009 houve um acréscimo de 37 592 pessoas em relação ao ano anterior. É cada vez maior o número de famílias que se encontra em situação desesperada. E as listas de espera nas Instituições que distribuem os alimentos engrossam assustadoramente. Não há alimentos que cheguem para tanta gente, não há estruturas que consigam suportar tamanha corrida, apesar de toda a boa vontade e dedicação que, por vezes, fazem milagres.
Mas, ao contrário da solução que encontrámos para a crónica de ontem, não há, neste caso, a possibilidade de “remendar o pano”. Para a pobreza (a profunda e a envergonhada), o sobreendividamento, o desemprego, o emprego precário, os baixos salários e a instabilidade económica e social em que vivem muitos concidadãos parece não haver alternativas credíveis que permitam dar a volta a este estado de coisas.
Pode-se passar sem o carro novo mas não sem o alimento do dia-a-dia. E se para uns, quando chega a hora de apertar o cinto, podem deixar de comer um naco de carne mas ainda assim têm pão com manteiga para enganar os estômagos, para outros, já não existe manteiga nem, muitas vezes, o próprio pão.
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