Na semana passada Carlos Costa, o Governador do Banco de Portugal, deu conta dos resultados de um "Inquérito à literacia financeira da população portuguesa" realizado pelo BdP. Inquérito que pretendia avaliar o nível de conhecimentos financeiros dos portugueses.
E as conclusões a que chegaram é que a generalidade das pessoas não faz a mínima ideia do que é uma TAEG ou é pouco sensível à importância de poupar. Sabem, quando muito, o que é um spread mas, mesmo assim, de uma forma muito genérica.
Penso que ninguém ficou surpreendido com as conclusões do inquérito. Obviamente que as pessoas não têm preparação financeira de base e estão pouco preocupadas com uns quantos termos técnicos que pouco lhes dizem. Preocupam-se, isso sim, com o montante que vão ter que pagar mensalmente pelos empréstimos que pediram ao Banco para comprarem as suas casas ou quanto vão receber de juros por uns trocos que conseguiram colocar numa conta a prazo. Expressões como ”Over night” e outras que tais, deixam-nas ao cuidado dos seus gestores de conta que é para isso que eles lá estão.
Quanto à importância de poupar a questão é outra. Segundo o mesmo estudo, os inquiridos consideram importante planear o orçamento familiar, embora só cerca de metade reconheça essa necessidade e confirmem que ainda conseguem amealhar. Mas, sublinhe-se, dos que poupam, a quase totalidade fá-lo para que esse dinheiro possa, uns tempos depois, ser gasto e pouquíssimos têm a preocupação de aforrar para constituir património ou para acumular riqueza.
E percebe-se porquê. Durante décadas gerações de portugueses viveram com imensas dificuldades. A democracia trouxe melhores dias e salários mais justos. Desapertámos, enfim, o colarinho que estava demasiado estreito e começámos a viver. Os Bancos ajudaram à festa ao escancarar as portas e a conceder empréstimos sem entraves nem justificações. Tudo corria bem e os portugueses habituaram-se a isso.
Quando pensávamos que a nossa vidinha iria ser sempre daquele jeito, tiraram-nos o tapete e regressámos aos sobressaltos de antigamente. E, a toda a hora, vão-nos lembrando que dias muito difíceis estão a chegar e é necessário começar a economizar desde já. A angústia voltou a tomar conta de nós, sentimento a que ninguém consegue escapar. Nem mesmo aqueles que, estando mais preparados, não “sofrem” da literacia financeira.
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