Quando em 1994 visitei Moçambique, assisti a um país completamente arruinado e destroçado por uma longa e feroz guerra civil, que acabara pouco antes. Por todo o lado viam-se sinais de uma pobreza imensa. Maputo, a capital, era bem o reflexo desse estado de coisas. As farmácias estavam vazias, os transportes funcionavam muito mal, a conservação das ruas e das casas era inexistente. A degradação era tanta, tanta e tal, que em muitos pontos da cidade viam-se valas abertas que serviam como esgotos. Moçambique era considerado, então, o país mais pobre do mundo.
Daí que, face ao que ia observando a cada momento, não tivesse ficado surpreendido quando me disseram que uma família tinha sido apanhada a viver num dos jazigos do cemitério local.
Num país sem condições, que viu chegar à capital milhares e milhares de refugiados de outras zonas, e que, naturalmente, não tinha para oferecer qualquer tipo de estruturas que servissem minimamente como casas, o facto de uma família ter ido viver para um cemitério, para mim isso não era uma surpresa, era um acto de imaginação necessário à sua subsistência.
Surpreso fiquei quando há pouco foi divulgado que em Portugal, em pleno século XXI, num país que está integrado na Europa dos ricos (embora sendo o mais pobre) num país que se diz, e que se quer desenvolvido, uma família viveu ao longo de mais de 20 anos num dos pisos subterrâneos do Hospital de Santa Maria.
E, por isso, não posso deixar de me interrogar como foi possível, no meu país, ao longo de tanto tempo, ter-se verificado uma completa ausência de controlo, que permitiu que um indivíduo chegasse a levar a mobília de quarto para aquelas catacumbas e dali fizesse o domicílio oficial da sua família.
Mas a incompetência chegou a um ponto tal nesse mesmo Hospital, que - pasme-se - foram utilizados alguns armazéns contíguos à casa mortuária, para guardar, também ao longo de vários anos, os produtos resultantes dos assaltos cometidos por vários grupos de meliantes.
Ninguém aceitará uma explicação para o sucedido, por melhor que ela seja. Como é que isto foi possível? A quem devem ser imputadas responsabilidades?
Daí que, face ao que ia observando a cada momento, não tivesse ficado surpreendido quando me disseram que uma família tinha sido apanhada a viver num dos jazigos do cemitério local.
Num país sem condições, que viu chegar à capital milhares e milhares de refugiados de outras zonas, e que, naturalmente, não tinha para oferecer qualquer tipo de estruturas que servissem minimamente como casas, o facto de uma família ter ido viver para um cemitério, para mim isso não era uma surpresa, era um acto de imaginação necessário à sua subsistência.
Surpreso fiquei quando há pouco foi divulgado que em Portugal, em pleno século XXI, num país que está integrado na Europa dos ricos (embora sendo o mais pobre) num país que se diz, e que se quer desenvolvido, uma família viveu ao longo de mais de 20 anos num dos pisos subterrâneos do Hospital de Santa Maria.
E, por isso, não posso deixar de me interrogar como foi possível, no meu país, ao longo de tanto tempo, ter-se verificado uma completa ausência de controlo, que permitiu que um indivíduo chegasse a levar a mobília de quarto para aquelas catacumbas e dali fizesse o domicílio oficial da sua família.
Mas a incompetência chegou a um ponto tal nesse mesmo Hospital, que - pasme-se - foram utilizados alguns armazéns contíguos à casa mortuária, para guardar, também ao longo de vários anos, os produtos resultantes dos assaltos cometidos por vários grupos de meliantes.
Ninguém aceitará uma explicação para o sucedido, por melhor que ela seja. Como é que isto foi possível? A quem devem ser imputadas responsabilidades?
3 comentários:
Ao certo o que é que te indigna mais? O simples facto de ter acontecido, o facto de ter acontecido durante tanto tempo ou o facto de ter acontecido no teu país?
Se tivesse acontecido noutro país seria menos grave, ou, chamemos-lhe "mais desculpável"?
Se queres que te diga, ao certo ao certo, o que me indigna verdadeiramente, ou dizendo de outra maneira, o que mais me revolta, é assistir a um facto desta natureza, que é ultrajante para a dignidade humana e que permite que PESSOAS continuem a viver (viver, é uma forma de dizer, má, mas não me ocorre outra) daquela maneira. E estou-me nas tintas se isso acontece aqui no meu país ou noutro qualquer país em qualquer lugar do mundo, povoado por brancos, pretos, amarelos, cristãos, muçulmanos ou, até, por vegetarianos. O facto em si é obsceno. Por isso continuo a perguntar “como é que isto foi possível?”
Já para não falar do "falso médico" que trabalhou (?) anos a fio no mesmo Hospital de Santa Maria. Como frequentador enquanto doente e mais tarde estudante naquele hospital, posso relatar que aquilo é uma verdadeira cidade, por isso não me surpreendem estes factos.
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