Logo a seguir à revolução de Abril de 1974, quando a maioria das empresas foram estatizadas, ouvia-se dizer com frequência que ninguém conhecia o patrão. Queria-se com isso dizer que o Estado era, de facto, o dono dessas empresas mas, como o Estado não tem rosto, ninguém sabia quem era o patrão, ninguém conseguia visualizar a sua cara. Claro que isto também servia como justificação para muitas outras coisas, mas adiante.
Actualmente como a questão da “falta dos rostos” já não nos preocupa tanto (o que não quer dizer que não estejamos muito preocupados com a falta de vergonha de algumas caras conhecidas), a nossa atenção está agora mais virada para os nomes das pessoas. Ou antes, para a falta desses nomes.
Isto porque é comum ouvir-se os empregados referirem-se ao Director de uma determinada empresa como “o Director” e raramente pronunciam o nome dessa pessoa. Fala-se antes no ”Director” ou no “Doutor”. Falam mais no cargo do que no indivíduo, por isso ele não é identificado e preferem classificá-lo simplesmente por doutor ou doutora, como se o título académico estivesse indexado ao Mário ou à Fernanda. Mas não, o doutor serve para os Mários, para as Fernandas, para os Franciscos, para os Eduardos e para todos os nomes que lhes dêem na cabeça. Simplificou-se o tratamento e não ocupamos os ficheiros de memória do nosso cérebro, com a identificação do nome, que toda a gente sabe que é, indiscutivelmente, “o doutor”. “Olha, o doutor mandou-te chamar” ou “o doutor deu instruções para …”
E a questão da omissão dos nomes é tão mais grave que é frequente ouvir nos noticiários das TV’s os locutores referirem-se a alguém sem lhes pronunciar o nome. Ainda nos últimos dias, a propósito da visita de Bill Gates a Portugal, o seu nome foi invariavelmente substituído por “o homem mais rico do mundo” ou “o patrão da Microsoft”
Absurdo, não é?
Outro aspecto que me faz ir aos arames é o tratamento indiferenciado entre os licenciados. Eu explico o que quero dizer. Suponhamos que um serviço tem meia dúzia de licenciados e é chefiado também por um licenciado.
Na maior parte das empresas que conheço, o que se passa é que todos se tratam pelos nomes, em geral pelo nome próprio, mas quando falam com o chefe/director/responsável dirigem-se-lhes de forma mais formal, porventura mais submissa, e aplicam-lhe o “Dr.”.
Poder-se-á dizer que é por uma questão de respeito, ou por causa da idade. Mas não. Quanto à idade, não deve ser, uma vez que, em muitos casos, o chefe é mais novo do que os seus colaboradores. Quanto ao respeito, bem, sempre achei que ele deveria ser biunívoco, isto é, deveria haver respeito de parte a parte, o que parece não acontecer. O que eu ouço normalmente é o chefe tratar o seu ajudante pelo nome próprio e, este, continuar a tratá-lo por “Dr.”. “Oh Joaquim, veja se amanhã me entrega o projecto já com as emendas que lhe pedi”. “Sim, Sr. Dr., pode ficar descansado, amanhã terá o projecto em ordem”.
E isto é já tão “normal” que até na televisão, é frequente assistirmos a cenas destas. Ainda há dias ouvi uma entrevista conduzida pela Drª. Judite de Sousa ao Dr. Francisco Louçã. E o que ouvimos? Apenas o habitual, a jornalista colocava as questões ao Dr. Louçã e ele respondia com toda a naturalidade “Olhe, Judite, o que eu penso …”
Absurdo, não é?
Actualmente como a questão da “falta dos rostos” já não nos preocupa tanto (o que não quer dizer que não estejamos muito preocupados com a falta de vergonha de algumas caras conhecidas), a nossa atenção está agora mais virada para os nomes das pessoas. Ou antes, para a falta desses nomes.
Isto porque é comum ouvir-se os empregados referirem-se ao Director de uma determinada empresa como “o Director” e raramente pronunciam o nome dessa pessoa. Fala-se antes no ”Director” ou no “Doutor”. Falam mais no cargo do que no indivíduo, por isso ele não é identificado e preferem classificá-lo simplesmente por doutor ou doutora, como se o título académico estivesse indexado ao Mário ou à Fernanda. Mas não, o doutor serve para os Mários, para as Fernandas, para os Franciscos, para os Eduardos e para todos os nomes que lhes dêem na cabeça. Simplificou-se o tratamento e não ocupamos os ficheiros de memória do nosso cérebro, com a identificação do nome, que toda a gente sabe que é, indiscutivelmente, “o doutor”. “Olha, o doutor mandou-te chamar” ou “o doutor deu instruções para …”
E a questão da omissão dos nomes é tão mais grave que é frequente ouvir nos noticiários das TV’s os locutores referirem-se a alguém sem lhes pronunciar o nome. Ainda nos últimos dias, a propósito da visita de Bill Gates a Portugal, o seu nome foi invariavelmente substituído por “o homem mais rico do mundo” ou “o patrão da Microsoft”
Absurdo, não é?
Outro aspecto que me faz ir aos arames é o tratamento indiferenciado entre os licenciados. Eu explico o que quero dizer. Suponhamos que um serviço tem meia dúzia de licenciados e é chefiado também por um licenciado.
Na maior parte das empresas que conheço, o que se passa é que todos se tratam pelos nomes, em geral pelo nome próprio, mas quando falam com o chefe/director/responsável dirigem-se-lhes de forma mais formal, porventura mais submissa, e aplicam-lhe o “Dr.”.
Poder-se-á dizer que é por uma questão de respeito, ou por causa da idade. Mas não. Quanto à idade, não deve ser, uma vez que, em muitos casos, o chefe é mais novo do que os seus colaboradores. Quanto ao respeito, bem, sempre achei que ele deveria ser biunívoco, isto é, deveria haver respeito de parte a parte, o que parece não acontecer. O que eu ouço normalmente é o chefe tratar o seu ajudante pelo nome próprio e, este, continuar a tratá-lo por “Dr.”. “Oh Joaquim, veja se amanhã me entrega o projecto já com as emendas que lhe pedi”. “Sim, Sr. Dr., pode ficar descansado, amanhã terá o projecto em ordem”.
E isto é já tão “normal” que até na televisão, é frequente assistirmos a cenas destas. Ainda há dias ouvi uma entrevista conduzida pela Drª. Judite de Sousa ao Dr. Francisco Louçã. E o que ouvimos? Apenas o habitual, a jornalista colocava as questões ao Dr. Louçã e ele respondia com toda a naturalidade “Olhe, Judite, o que eu penso …”
Absurdo, não é?
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