Hoje volto a falar de ética. Pode parecer mania mas continuo a pensar que a ética é um dos valores que temos que preservar obrigatoriamente. Por certo, ninguém gostará de viver numa sociedade onde os valores fundamentais pouco ou nada contam e em que todos os meios são válidos para se atingirem os fins.
Apesar de constatar que, no dia a dia, muitas pessoas estão-se nas tintas para esses valores, tenho esperança (tenho mesmo a certeza) que o mesmo não acontece com os meus amigos.
E volto à ética porquê? Porque ontem, à entrada de um centro comercial, um funcionário de um banco abordou-me para tentar vender um cartão.
Como também pertenço ao ramo, recusei dizendo-lhe que, uma vez que pertencia à concorrência, não me parecia correcto. “E depois?”, perguntou. Respondi que não achava ético usar cartões de outra instituição bancária. Ao que ele argumentou, “Ora, ora, a ética é aquilo que nos dá mais lucro, a ética é usar o cartão que dá mais vantagens, o resto é conversa”.
Para mim o diálogo tinha terminado. O meu sorriso inicial desapareceu e voltei as costas ao meu interlocutor.
Mas o que mais me preocupa nestas atitudes é que as pessoas, individualmente ou por conta das empresas, pensam efectivamente que o que está em primeiro lugar é o dinheiro que se ganha, são os lucros próprios e imediatos. O resto é conversa, como disse o outro. Mas será que vale tudo?
Aquela demonstração de mercenarismo primário só não me deixou mais chocado porque, infelizmente, tenho-a encontrado por diversas vezes.
Encontrei, por exemplo, no relato que me fizeram de um administrador de uma companhia de seguros de saúde, numa reunião com todos os colaboradores da empresa, em que incitou os participantes a vender mais. “Muito mais”, disse, “temos que fazer muito mais dinheiro mesmo que seja à conta da saúde dos outros”. Ou seja, os outros que adoeçam à vontade, que o que interessa realmente é o negócio.
Encontrei, por exemplo, no meu grupo financeiro (e nos outros passa-se o mesmo) quando se começou a vender planos de poupança reforma a jovens que ainda frequentavam a universidade. Vender PPR’s a jovens que nem sequer tinham ainda começado a sua vida activa? Vendam-se cartões, vendam-se créditos à habitação, inventem-se produtos adequados aos mais novos mas, PPR’s?
O negócio antes de tudo, uma vez mais os fins a justificar os meios.
1 comentário:
Só tenho uma palavra: isto tudo é muito triste!
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