quarta-feira, outubro 18, 2006

“Marca Portugal”




Mesmo sabendo que é normal, e até frequente, mudarem-se os nomes às coisas só para que se fique com a sensação de que alguma coisa realmente mudou, tenho que confessar que fiquei com alguma esperança que, desta vez, a alteração do “Made in Portugal” para a “Marca Portugal” viesse a produzir o desejado efeito, algo que se visse de facto.
Afinal, a expressão “Made in ...” é universal, aplica-se a tudo e em todo o lado, enquanto que a “Marca Portugal” é nossa, só nossa e só às coisas que são produzidas – e bem – na nossa terra diz respeito. É como um certificado de garantia, é como uma certificação dos nossos produtos perante os potenciais compradores, quer nacionais, quer, sobretudo, estrangeiros.
Acreditava que a alteração da designação pudesse impor com mais facilidade os nossos produtos, muito embora sabendo que marcas portuguesas tão conhecidas pelo mundo fora como o nosso vinho do Porto, são comercializados despudoradamente por outros países, a começar pelos nossos vizinhos espanhois, com a mesmo nome como se do original se tratasse. Mas, adiante...

Acreditei e acredito que a “Marca Portugal”, ajudada por um logótipo felizmente bem idealizado, possa afirmar no estrangeiro e aos estrangeiros que por cá se produzem coisas com qualidade e em vários domínios.

E por cá, neste rectângulo, como diz em tom depreciativo o desbocado do Alberto João Jardim, neste pequeno rectângulo, digo eu agora, abençoado por um sol magnífico, de areais finíssimos, de peixe fresco e saboroso e povoado de gente acolhedora, como é que os nossos produtos são anunciados nos nossos estabelecimentos aos eventuais compradores, que na sua maioria até são portugueses?

Desde logo, colocando o nome dos produtos que vendem em inglês, e apenas em inglês, e esquecendo completamente que estamos em Portugal, falamos o português e há pessoas portuguesas que poderão estar interessadas em comprar naquelas casas.

Não, os nossos “pequenos empresários” apenas pensaram que aqui em Portugal os pelintras dos nacionais não têm direito a comprar e, por isso, viraram-se para os ingleses.

Isto devia ser proibido. Deveria haver, se é que não há, legislação que obrigasse ao anúncio do que quer que fosse, primeiro na nossa língua e depois em todas as outras línguas que os comerciantes achassem mais conveniente. Mas em primeiríssimo lugar na nossa língua.

Mas admitindo que existe um vazio legislativo nesta matéria, porventura sinal de que os nossos políticos andam muito distraídos, o que gostaria é que os portugueses evitassem a todo o custo este tipo de lojas. Lojas que por não terem respeito por nós, deviam ir à falência. Isso, deixem-nos falir, deixem que a estupidez dos seus proprietários dite o seu próprio fim. Comigo não contam nem que eles estejam a vender os artigos ao preço da uva mijona.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa, demascarenhas, estou contigo na risada que vamos dar quando esses empresárisecos de trazer por casa, olharem à volta e, em vez dos “bifes” e dos “camones”, apenas conseguirem enxergar uns quantos “portugas” que andam com os bolsos meio vazios mas que ainda vão comprando umas coisitas que, afinal, vão sustentando o comércio. Que tenham os cartazes e as ementas em inglês, em polaco ou em chinês, tanto me faz, mas a nosso português tem que vir em primeiro lugar. Mai nada!

Anónimo disse...

O termo agora é "Pissing grape price" - também já foi internacionalizado.


Estou contigo, claro. Mas infelizmente sabemos como é difícil lento o processo de mudança de mentalidades. Principalmente as nossas.

Actualmente há n marcas genuinamente lusas, plenas de êxito fora do país, que comercializam os seus produtos com nomes estrangeiros. Seja em que língua for, o importante é não estar em português. É triste.

Numa altura em que procuramos tanto a nossa afirmação no estrangeiro, damos sempre dois passos atrás cada vez que relegamos, desta forma, a nossa identidade para terceiro plano.

De que servem os campeonatos europeus de futebol, se depois, no resto do ano, quase temos vergonha de sermos portugueses?

E depois ainda invejamos o orgulho próprio dos espanhóis, mas, meus amigos, se somos os primeiros a esconder-nos em estrangeirismos, então bem podemos ficar a olhar para Madrird com um fio de baba no canto da boca.

Não digo que os espanhóis são o modelo perfeito a seguir, mas mesmo que fosse, assim nunca lá chegaremos.


Antes de sermos bons lá fora, temos de ser bons cá dentro. E antes de sermos bons cá dentro, temos de acreditar que somos bons.

A forma tem que ter conteúdo.