O caso parece que não está ainda completamente decidido – é o que dizem - mas, ao que parece vão fechar em todo o país umas quantas urgências hospitalares. Oficialmente, pelo menos, o povo não sabe que a coisa já está cozinhada mas, porque não é tolo de todo, suspeita, no entanto, que tudo está já resolvido e, sabe ainda, que em muitos casos, quando alguém estiver mesmo aflito vai ter que percorrer uma quantidade enorme de quilómetros, isto se houver ambulâncias preparadas para tal, com médicos e pessoal de enfermagem devidamente habilitados e se a doença estiver na disposição de fazer uma viagem demorada e não decidir que o paciente vai ter mesmo que morrer antes de chegar ao “hospital a sério”.
Dizem, quem diz perceber disto, que o fim destes serviços hospitalares, à semelhança, aliás, do que também está a acontecer com as maternidades, é motivado pela demografia e acessibilidades da população. Pode ser que sim mas, para mim, tudo isso parecem-se ser umas tretas mal contadas e acredito que o que está na base de tudo isto são questões meramente economicistas e nada mais.
Estou a pensar naquela gente de idade já avançada, cheia de achaques e de doenças crónicas, cujo o alívio, físico e psíquico, é muitas vezes conseguido pela ida ao centro de saúde que têm ali mesmo à mão de semear, na sua própria terra. A obrigatoriedade de ser deslocados para um outro centro – mais longe, com médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar com que não estão familiarizados - provoca-lhes, no mínimo, insegurança, porque não sabem sequer se vão ser tratados mais rapidamente e com melhores condições técnicas e humanas. Isto, claro está, para além da incomodidade da deslocação e da incerteza de conseguirem chegar, ainda com vida, ao novo centro.
Ainda se o governo explicasse o que motiva tão radical alteração, estou convencido que algumas pessoas talvez aceitassem essas razões. Poderia dizer, por exemplo, ainda que pudesse não corresponder à realidade, que o seu centro de saúde vai fechar porque os doentes vão ter ao seu dispor, embora um pouco mais longe, melhores meios de diagnóstico, médicos e enfermeiros mais preparados e instalações que permitem um internamento precário, se necessário. O governo devia explicar, por forma a que todos percebessemos e ficássemos convencidos, que tudo tinha sido pensado numa perspectiva de dar uma melhor qualidade de assistência à população.
Mas não, os motivos adiantados pelo governo não foram claros, pelo que paira sobre nós a terrível e cruel dúvida sobre o nosso destino. É que, por má sorte, pode acontecer, irmos cair nas mãos de “um mau médico” como aquele a quem Bocage dedicou estes versos:
Doutor, até do hospital
Te sacode enfermo bando.
Qual será disto a causal?
É porque, em tu receitando,
Qualquer doença é mortal.
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