Olhei por acaso para o cantoneiro (não sei se é assim que se chama ao funcionário que antigamente era conhecido por varredor) que empurrava o carrinho do lixo ao longo da rua. Aqui e ali parava, apanhava o lixo do chão, colocava-o na pá que, depois, despejava num dos baldes do carrinho. Enquanto trabalhava, o cigarrito que lhe servia de companhia ficava dependurado na boca.
Os gestos repetiam-se, o cigarro ia-se extinguindo e a calçada ficava mais limpa. Até que o cigarro se tornou beata e o varredor acabou por a atirar para o chão que acabara de limpar.
Nesse momento não pude deixar de pensar no que teria levado aquele homem, responsável pela limpeza da rua, ser - ele próprio – o causador do emporcalhamento da mesma. Nesse círculo vicioso do suja, limpa e suja, só consegui imaginar duas razões para o gesto: Descuido ou distracção.
A não ser que, ainda que inconscientemente, quisesse garantir o seu próprio posto de trabalho …
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