quinta-feira, novembro 12, 2009

Teste


Proponho-vos hoje um texto. Um texto e um teste. Leiam-no e adivinhem quem o escreveu.



“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,

Fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
Aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
Sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
Pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
Um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem,
Nem onde está, nem para onde vai;
Um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
E guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
Um lampejo misterioso da alma nacional,
Reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,

Não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
Sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
Descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
Capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
Da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa
Sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos,
Absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;

Este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
Tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política,

Torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,

Incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e
Pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
Iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
E não se malgando e fundindo, apesar disso,
Pela razão que alguém deu no parlamento,
De não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.”

Não, erraram redondamente. Não foi Medina Carreira. O magnífico e contundente texto que transcrevemos foi escrito por Guerra Junqueiro em 1896. Repito, este texto foi escrito pelo deputado, jornalista, escritor e poeta GUERRA JUNQUEIRO em 1896.

Passados estes anos todos, verificamos que nada mudou.

Como dizia Guerra Junqueiro “Alguém tem dúvidas que o povo é imbecil? O problema é que a Raça é fraca”.



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