quinta-feira, novembro 26, 2009

Voyeurismo político?


Depois do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e do Procurador Geral da Republica terem tornado público que nas escutas efectuadas no âmbito do processo “Face Oculta” não encontraram elementos que justifiquem procedimento criminal contra José Sócrates, o que é que, de facto, os portugueses querem saber?


Reparem que não está em causa se o primeiro-ministro pode ou não pode ser “escutado”, não se questiona sequer porque é que as escutas se tornaram a principal forma de investigação no nosso país quando, outrora, uma das acusações que se fazia à PIDE era justamente o abuso intolerável da devassa da privacidade dos cidadãos, nem, e finalmente, se José Sócrates está envolvido no processo da sucata”.


O que a rapaziada quer mesmo saber é se o Sócrates disse ao Vara que a Manuela Moura Guedes tinha que ser corrida da TVI porque já andava a chatear com tanta perseguição ao PS e, sobretudo, a ele próprio. Provavelmente um tipo de desabafo igual a tantos outros que se fazem entre camaradas, como aquele que confidenciei ontem a um amigo “O Teixeira dos Santos bem pode dizer que este orçamento que vai apresentar é redistributivo quando para mim é simplesmente rectificativo”.


E depois? Qual foi o mal deste meu comentário feito em privado? E o de Sócrates feito ao Vara em conversa particular?


Miguel Sousa Tavares escrevia no Expresso do último sábado com bastante ironia:


“… Sigam o raciocínio: se o PM fala sobre o futuro da TVI é porque queria interferir nele; e, se queria interferir nele é porque queria silenciar o Jornal de Sexta, que estimava, e, aliás, com razão, ser um jornal ad hominem, dirigido contra ele; logo, se queria silenciar o Jornal de Sexta é porque queria atentar contra a liberdade de informação; e, logo, se era isso que no fundo queria, estava a atentar contra o Estado de Direito”.


Meus amigos, a verdade é que se já nem acreditamos na palavra do PSTJ e do PGR (se calhar até achamos que eles estão todos “feitos” uns com os outros), se duvidamos do que afirmam e queremos tão-somente que eles “confessem” outra coisa, aquela que nós gostaríamos de ouvir (porque certezas já nós as temos), provavelmente o que acontece é que achamos que tudo o que nos contam é pura mentira. Já não acreditamos em nada nem em ninguém.


A ser assim, o nosso interesse tende a centrar-se apenas nos aspectos marginais das questões, deixando o essencial de fora e, perigo dos perigos, começamos a não saber distinguir entre o que é informação e voyeurismo político.




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