sexta-feira, setembro 17, 2010

Até Amanhã


De Eugénio de Andrade “Até Amanhã”


Sei agora como nasceu a alegria,

como nasce o vento entre barcos de papel,

como nasce a água ou o amor

quando a juventude não é uma lágrima.

Primeiro só um rumor de espuma

roda do corpo que desperta,

sílaba espessa, beijo acumulado,

amanhecer de pássaros no sangue.

Subitamente um grito,

um grito apertado nos dentes,

galope de cavalos num horizonte

onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.

De coisas que te dou

para que tu as ames comigo:

a juventude, o vento e as areias.