quinta-feira, setembro 16, 2010

Cuba, e agora?


Já tinha lido há dias que o ex-presidente cubano Fidel Castro considera que o modelo económico de Cuba "deixou de servir". A declaração é bombástica mas, num país a braços com graves problemas económicos e sem apoios exteriores, só peca por tardia. Apesar do desassombro da afirmação, a “explicação oficial” não tardou e veio esclarecer que “Fidel não estaria a recusar as ideias da revolução, mas simplesmente a reconhecer que o Estado tem um papel excessivo na vida económica do país”. Pois!

Quando, há uns anos, estive em Cuba pude descobrir um país em que cerca de 85% da população era empregada do Estado. Não havia, portanto, desemprego, ainda que para isso houvesse muitas funções em que uma pessoa trabalhava às 2ª e 5ª, outra às 3ª e 4ª e uma terceira às 6ª e sábados. Três em um: um emprego, três trabalhadores. É certo que ganhavam pouco mas todos tinham uma ocupação, um salário, embora só fossem chamados a trabalhar dois dias na semana. Era uma situação confortável para os trabalhadores que se sentiam aconchegados com a ideia da garantia dos seus postos de trabalho mas perfeitamente insustentável para o Estado Cubano. De facto, um modelo peculiar de que o próprio Presidente Raul Castro chegou a afirmar "Temos de acabar com a ideia que Cuba é o único país do mundo onde se pode viver sem trabalhar".

Daí que o Governo de Havana tivesse anunciado agora um plano radical – o mais drástico verificado desde a revolução de 1959 – que se propõe despedir mais de um milhão de funcionários públicos nos próximos três anos, quase metade já até ao fim do ano.

Bem podem as autoridades afirmar que os efeitos desta medida vão ser bastante atenuados pela criação de mais empregos no sector privado ou que a partir de agora vai haver grande desenvolvimento de negócios criados pelos próprios desempregados. Podem dizer o que quiserem mas o facto é que um em cada cinco trabalhadores cubanos vão ficar sem emprego, despedidos pelo próprio Estado, coisa impensável até agora.

E a questão que todos colocam é como vai ser daqui para a frente? Por um lado, para a população, a coisa vai ficar ainda mais difícil porque o “trabalho para toda a vida” acabou. Por outro, o Governo que controlava até aqui quase todos os aspectos da vida no país poderá vir a enfrentar uma tensão social que não se sabe até onde pode ir.

Ao fim de mais de cinquenta anos de regime os próprios responsáveis reconheceram que alguma coisa tinha que mudar e essa mudança foi materializada, para já, no despedimento maciço de mais de um milhão de empregados do Estado, algo que é absolutamente extraordinário e que, inevitavelmente, centrará as atenções do mundo naquilo que possa vir a acontecer num dos últimos bastiões comunistas.


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