quinta-feira, setembro 02, 2010

Os “franciús”


Sobre os portugueses emigrados em França, os “franciús como lhes chamo, a que eu fiz referência na última crónica, gostaria, ainda, de dizer o seguinte. É que se aqui há uns anos eu dava um certo desconto ao ar emproado que ostentavam quando vinham passar férias à “santa terrinha”, pavoneando-se em carros vistosos de boas marcas e tentando impressionar os pategos cá do burgo com umas quantas palavras francesas – as “vacances”, as “fenêtres” das “maisons” e as “voitures” - hoje não tenho a mínima pachorra para os aturar. Os tempos são outros e as pessoas também são outras.


Dantes eram os emigrantes de primeira geração que regressavam todos os anos a tempo de assistir às festas das suas aldeias. Tinham, maioritariamente, pouca instrução e, porque a vida lhes correu de feição lá fora, exprimiam uma certa vaidade em fazer sentir aos de cá que tinham triunfado na vida. A esses, achava-os provincianos mas admirava-lhes a coragem de terem dado o salto e de terem trabalhado duramente para conseguirem melhorar de vida.


Hoje, porém, os “franciús”, já constituem a segunda, a terceira e até a quarta geração de emigrantes. Já nasceram lá, já tiveram oportunidades semelhantes aos franceses de gema, já estudaram, já tiveram acesso a empregos mais qualificados que os seus familiares mais velhos. Tinham obrigação de serem mais civilizados e mais inteligentes a ponto de não se quererem passar por aquilo que realmente não são. Nota-se, em muitos casos, uma arrogância profunda que, quiçá, assimilaram dos próprios franceses. Até compreendo que falem sobretudo o francês – afinal já nasceram ou estão por lá há séculos - mas custa-me aceitar que usem a língua unicamente para tentarem impressionar. Só que, às vezes, o tiro sai pela culatra. Como nesta história verdadeira que se passou ali para os lados de Aveiro.


O automóvel com matrícula francesa estava estacionado em lugar não permitido. O agente da GNR estava a passar a respectiva multa quando apareceu o proprietário do veículo que tentou, em francês, dissuadir o guarda. Gesticulava muito e falou sempre em francês até que, por falta de resposta do GNR que aparentemente não o percebia, exclamou em português “estou a ver que vai mesmo multar-me…”.

Resposta imediata do agente “Oui, oui”.


1 comentário:

provocador disse...

Boa, grande GNR. Respondeu à letra e deve ter gozado à grande. Mas, demascarenhas, a parolice não é um atributo exclusivo dessa gente. Há por aí uns tipos que também não perdem uma oportunidade … Ainda há dias uma daquelas avionetas que arrastam faixas publicitárias ao longo dos areais trazia uma que até me arrepiou: “Linda, és a mulher da minha vida. Amo-te. Carlos”.
Estive pouco tempo na praia, mas fiquei com a impressão de que a qualquer momento podia surgir um outro avião com uma faixa a dizer “Carlos, já foste o homem da minha vida. Amei-te mas fugi com um GNR de Aveiro”