Toda a gente sabe que a figura de Manuela Ferreira Leite nunca me foi muito cara. Sempre coloquei reservas às políticas que seguiu enquanto Ministra da Educação e, sobretudo, enquanto Ministra das Finanças, muito embora não ponha em causa a sua seriedade política e a sua competência técnica.
Pois bem, perante o discurso de Passos Coelho, anunciando o agravamento da austeridade com medidas (algumas delas já implementadas em 2012, com os péssimos resultados que todos os indicadores mostram), vários foram os políticos de todos os quadrantes (e também todos os parceiros sociais - trabalhadores a patrões - uma verdadeira união nacional contra o Governo) que levantaram as suas vozes. Incluindo a de Ferreira Leite que, como se sabe, pertence ao principal partido da coligação que nos governa.
E de tal maneira que, na última semana, numa entrevista à TVI24, afirmou com todas as letras "Só por teimosia se pode insistir numa receita que não está a dar resultados” e exortou o Governo a arrepiar caminho e os portugueses a fazerem cada um o que tem de fazer para, em consciência, tentar inverter o rumo.
E não podia ter sido mais clara ao afirmar: “Alguma coisa tem de ser ajustada”; “não só não se atingem os objectivos como o país chega ao fim destroçado”; "O Governo actua com base em modelos que estão a ser perniciosos e não têm nenhuma adesão à realidade, sem conseguir explicar onde o país vai estar em 2014, como se salta daqui para o crescimento?”; "O Governo tem uma total insensibilidade social, sobretudo para os reformados".
Afirmações que foram entendidas como um recado aos deputados para alterarem ou chumbarem o Orçamento do Estado e aos cidadãos descontentes e desesperados que não podem fazer muito mais do que se manifestarem e fazerem ouvir bem alto os seus protestos.
Pelo menos desta vez concordei com Manuela Ferreira Leite. E a indignação da antiga Ministra veio ao encontro dos muitos milhares de pessoas que, no sábado passado, se juntaram numa gigantesca manifestação que encheu as ruas das principais cidades do país. Não sei se Ferreira Leite se juntou aos demais manifestantes, como chegou a admitir, mas garanto-vos - porque estive lá - que toda aquela gente, de todas as idades e certamente de vários quadrantes políticos (ou de nenhum) fez sentir vivamente o desagrado pela forma como os governantes nos tratam.
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