Há uns anos, numa festa de casamento, encontrei um amigo que já não via há muito. Tínhamos convivido na tropa, ele era oficial de carreira e eu miliciano. Estivemos à conversa e vim a saber que depois de se reformar apenas tinha como ocupação umas quantas reuniões numa instituição de solidariedade gerida por militares na reserva. Achei interessante a actividade desenvolvida por essa instituição e perguntei se não necessitariam de mais um para ajudar. É verdade que nesse tempo não se falava em voluntariado como hoje, mas a minha intenção genuína era, tão-somente, colaborar de forma graciosa. Após breve hesitação, respondeu-me: "o montante de cada senha de presença é X. Interessa-lhe?"
Lembrei-me da história quando li há dias no Diário de Notícias um texto de André Macedo intitulado "Os Bons Empregos conseguem-se ao jantar". Nele se relatava um anúncio publicado na "Economist" em que "A Rainha de Inglaterra - na verdade o Ministério das Finanças - acabava de lançar um concurso para o cargo de governador do Banco Central de Inglaterra. O actual governador, Marvyn King, termina o mandato em Junho, é preciso encontrar um substituto e nada melhor do que um anúncio para escolher o mais capaz".
E acrescentava "Não me lembro de uma única oferta de emprego para cargos de topo nacionais. Nem no Banco de Portugal, nem em qualquer regulador, nem sequer em empresas públicas. Julgo até que poderia ser considerado perigoso um anúncio assim. Nós temos outro método de escolha. Resolvemos tudo em segredo, a meio de uma jantarada, e é nessa atmosfera íntima que se estabelece a cumplicidade que garante o êxito de Portugal".
Pois é ... o "êxito de Portugal"! Não quer dizer que no Reino Unido não existam, também, casos mais obscuros, mas por cá o costume é saltarem-se etapas, chatices e perdas de tempo com entrevistas e análise dos perfis de candidatos. Afinal, eles são quase sempre os mesmos e nesse "universo" toda a gente se conhece e existe uma permanente troca de favores. Hoje para mim, amanhã para ti e vice versa, num jogo pouco transparente mas que dura inalterável há demasiados anos.
Ah, e antes que me esqueça, não aceitei a proposta da tal colaboração em troca de umas quantas senhas de presença. Não pelo valor das mesmas mas porque, já nessa altura, eu tinha a mania de ter uma coluna vertebral.
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