Desde há muitos anos que a minha vocação, a minha “queda”, se quiserem, era ser assessor de qualquer coisa. Sempre tive um fascínio por aquela actividade, que se me perguntarem em que é que consiste, que tipo de trabalho é aquele, eu na verdade não faço a mínima ideia. O que sei é que, desde pequenino sempre quiz ser assessor. Bem, de pequenino talvez não, porque nessa altura a “profissão” de “assessor” ainda não tinha sido inventada. Eram tempos em que tudo se fazia de uma outra forma. Deixem-me ver se consigo explicar melhor. Quando havia necessidade de se tomar uma medida ou de se proceder a uma alteração, que podia até ser de fundo, reuniam-se meia dúzia de pessoas de diversas especificações e metiam as mãos à obra, que é como quem diz, tinha que se fazer, vamos a isto. Claro está que, tal como não havia ainda assessores, também ainda não tinham sido descobertos os “projectos”, nem tão pouco, os “grupos de trabalho. Mas adiante.
Para ser franco, o que eu em pequenino queria ser era jogador de hóquei em patins ou revisor dos comboios. Só muitos anos depois, provavelmente quando descobri que não seria nem uma coisa nem outra, é que me virei para a tal carreira de assessor. Comecei a perceber que era uma coisa com futuro, que poderia vir a ser alguém e que, sobretudo, poderia ganhar uma pipa de massa, ser conhecido e, portanto, mais requisitado, mas sempre como assessor.
Entretanto, os “grupos de trabalho” foram nascendo como cogumelos e, simultâneamente, não houve uma única empresa, um único departamento, um único serviço que não apresentasse projectos. Todo o mundo tinha projectos para ir para a frente, embora nalguns deles não se conhecesse bem quais as finalidades a atingir. E descobriu-se então que os projectos e os grupos de trabalho só poderiam funcionar se tivessem assessores a assessorar os tais grupos de trabalho para o desenvolvimento desses mesmos projectos.
A partir de certa altura, comecei, então, a trabalhar com os assessores. Eu estava lá (no grupo de trabalho, é claro) porque era um especialista em ..., e estavam lá mais uns quantos especialistas em ..., tudo gente da empresa, escolhidos a dedo porque sabiam daquelas matérias e, não tenho dúvidas que seriam bem capazes de levar os tais projectos a bom termo, a funcionarem mesmo. Mas estavam lá, também, obviamente, os assessores que iam apontando tudo o que dizíamos e que faziam as actas das reuniões onde eram discutidos assuntos que eles, assessores, não faziam ideia nenhuma do que se tratava. Mas eles impunham-se porque faziam umas bonitas apresentações em power point e conseguiam convencer os patrões com os gráficos que apresentavam, que o andamento do projecto ia bem, ou mal, ou não ia. E ganhavam bem para fazer isso.
Como disse, eu tinha um fraquinho pelo papel do assessor, muito embora eu soubesse pelos dicionários que consultava, que assessores não eram mais do que assistentes, adjuntos, auxiliares ou ajudantes, nunca os mentores, ou os líderes. Mas que querem, eles relacionavam-se bem com as administrações e, porque me dava bem com alguns deles, sabia que tinham remunerações bem interessantes.
Mas a vida é assim, nem sempre nos faz as vontades e eu nunca cheguei a ser assessor, tal como não fui jogador de hóquei em patins nem revisor dos comboios.
Se tenho seguido essa minha vocação, a de assessor, talvez hoje eu fizesse parte dos 64 assessores do Presidente Carmona Rodrigues, quem sabe se o assessor especial que tem a função de organizar os “Portos de Honra”. Mas se não fosse do presidente, poderia ser um dos 193 assessores-executivos dos vereadores com pelouros. Aliás, qualquer vereador da CML, independentemente do pelouro que tenha atribuído, tem entre 20 e 30 assessores para os orientar, o que realmente faz pensar que competências é que serão necessárias para se atingir um lugar na Câmara se, depois, é necessário ter um exército de adjuntos para os assessorar. São coisas como estas que, por mais que me esforce, nunca consigo perceber...
1 comentário:
Caro demascarenhas, então não se vê logo que estas a precisar de um assessorsito para ires de férias descansado !?
CALMA, não te estou a chamar incompetente.
Como sabemos, em qualquer equipa deve haver um líder (o que é só uma regra, pois todos conhecemos excepções, muitas. – Ele há equipas sem rei nem roque!), dizia, o líder tem como grande objectivo gerar sinergia (1+1>2), pelo que considero que os verdadeiros lideres se devem rodear de assessores, que devem ser os próprios membros da equipa, isto na medida em que tenham as competências para concretizar os objectivos (da equipa).
Assim gerir competências (técnicas e humanas) parece ser o segredo do bom líder.
Claro que, todos podemos criticar os assessores de aviário (ou de tacho!) que por ai há, mas temos de reconhecer que muitas das vezes os bons técnicos não sabem nem querem saber (desprezando portanto competências complementares à técnica / know how), como se devem comportar, relacionar ou trabalhar no seio de um grupo chamado equipa.
É por isso que muitos daqueles, verdadeiros pára-quedistas, fazem brilharetes, porque o mais importante não é a técnica, mas sim as questões da inteligência emocional.
Já agora ... boas férias e podes fechar o blog !
Stabilis ratio (Razão sólida)
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