Não sei o que dizer. Pior ainda, não sei o que pensar depois de saber que a nossa mais internacional e premiada pianista abandona o nosso país e vai viver para o Brasil.
Maria João Pires anunciou que vai instalar-se definitivamente no Brasil e desistir do Centro para o Estudo das Artes de Belgais, próximo de Castelo Branco, instalado numa quinta que comprou há sete anos.
"Sofri fisicamente todos aqueles anos em que me dediquei ao projecto e tentei fazer tudo, e não consegui... no fundo, não consegui mais do que um começo", lamentou-se.
“Em Portugal,” afirmou, "estava a ser vítima de uma verdadeira tortura". "Parto para me salvar um pouco dos malefícios que Portugal me estava a fazer", explicou a pianista, considerando que “comprar casa no Brasil - país onde ia "respirar - é um momento de coragem".
Sabe-se, aliás, que pretende construir em Salvador da Baía um novo projecto semelhante a Belgais, que está vocacionado para a apresentação de concertos de música clássica, workshops, residências e formação de crianças das escolas da região.
Sem adiantar pormenores, sabe-se que esta resolução drástica deve ter a ver com a falta de financiamentos a Belgais, de que se queixava há muito.
Em resposta, a Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, contestou a alegada falta de subsídios para Belgais, dizendo mesmo que desde o início do projecto o erário público já tinha dispendido um milhão, oitocentos e vinte mil euros a que se juntaram os subsídios vindos da Comunidade Europeia. A Ministra disse que considerava as queixas injustas e que Maria João Pires estava a ser ingrata com Portugal.
Em comunicado à imprensa publicado posteriormente, MJP disse que “Belgais não fechou nem vai fechar. Não tenciono abandonar aquilo que eu própria criei. Vou continuar a trabalhar e a colaborar no projecto Belgais, mesmo sem gostar do país”.
Sabemos que Maria João Pires é uma pianista conceituada e conhecida internacionalmente, sendo convidada com regularidade para tocar nas melhores salas de concerto de todo o mundo.
Sabemos que ela foi a fundadora e principal dinamizadora do Centro de Belgais para o Estudo das Artes, uma obra de cariz pedagógico, cultural e social de grande importância para a região.
O que não sabemos é que razões concretas a levaram a tomar esta decisão. Maria João Pires deveria ter sido mais clara nas suas afirmações e deveria ter esclarecido cabalmente porque é que estava a ser vítima de uma verdadeira tortura, quais os malefícios que Portugal lhe estava a provocar e porque é que já não gosta do seu país. As frases duras que proferiu, poderão ser uma expressão do seu estado de alma, mas, para os portugueses, nada esclareceram.
E o que pensarão os intelectuais de outros países que seguem de perto a carreira internacional da pianista? Que somos um povo que se dá ao luxo de detestar a arte e que despreza e maltrata os seus artistas? Não, não somos nada disso. Por isso gostaríamos que nos dissessem a verdade toda.
Depois de José Saramago ter preferido o "exílio" na ilha de Lanzarote, é agora a vez de Portugal e dos portugueses verem partir a distinguida com o Prémio Pessoa de 1989, Maria João Pires, uma personalidade da nossa cultura e uma pianista cujo virtuosismo musical ninguém discute.
Só queremos saber o que aconteceu ...
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