Quando há dias vos falei em assessores e vos abri a minha (i)alma ao confessar-vos que, na minha meninice, sonhara ser jogador de hóquei em patins e revisor dos comboios, logo perceberam que, eu tinha tido uma esmeradíssima educação. Tive, de facto, um enorme privilégio em ter recebido valores e saberes fundamentais que nortearam toda a minha vida. De tal forma que, ainda que eu o desejasse, ainda que as circunstâncias da vida me fossem madrastas, ainda assim, eu nunca me poderia vir a transformar num grunho, se é que sabem do que é que eu estou a falar. Pode ser que um dia vos fale sobre os grunhos.
Desde cedo aprendi a ter boas maneiras. Por exemplo, a comer de boca fechada, a ter as unhas cuidadas e limpas, a não bocejar, ou sendo impossível impedi-lo, a colocar a mão na frente da boca. Desde cedo aprendi tantas, mas tantas coisas, coisas daquelas que só uma esmerada educação ensina, que seria fastidioso enumerá-las. Aliás, nem isso me ficaria bem, porque a boa educação assim o determina.
Quase todas as regras, as de etiqueta e as outras, eram muito rigorosas e o seu cumprimento era controlado ao milímetro de forma exigente quer pelos pais (a quem eu chamava respeitosamente de “mami” e “papi”, e ao que eles me respondiam invariávelmente de “menino”), quer pela governanta, quer pelo mordomo, quer ainda pelas diversas preceptoras contratadas para me ensinarem as mais diversas matérias.
Lavar as mãos sempre fez parte desse ensino e das minhas obrigações. Era uma regra de higiene absolutamente fundamental, que tinha que cumprir por diversas vezes ao longo do dia “por causa dos micróbios”, como dizia a “mami”.
E porque sempre foi um gesto obrigatório e fundamental, foi com grande espanto que li há dias num jornal, num dos jornais ditos de referência, que “os médicos vão aprender a lavar as mãos”. Os médicos? – interroguei-me. Depois de adultos e com cursos superiores é que vão aprender a lavar as mãos?
É que, ao que parece, o Ministério da Saúde quer ensinar os profissionais de saúde a lavar as mãos, uma vez que estas são um dos principais veículos de transmissão das infecções de que são vítimas oito em cada cem doentes internados nos hospitais portugueses.
A vida é, por vezes, cruel. Interna-se uma pessoa num hospital para se curar de uma qualquer doença e, quando menos se espera, fica boa dessa doença e zás, apanha uma infecção dos diabos, só porque os profissionais que lhes deviam tratar da saúde, não tiveram (não souberam ter) os devidos cuidados ao lavar as mãos. Lá está, se os médicos, desde pequenitos, tivessem tido uma esmerada educação, como a minha que foi na Suiça, hoje saberiam como lavar correctamente as mãos e os tais oito doentes das estatísticas, passavam ao lado da infecção.
Percebem agora porque é que se diz frequentemente que certas coisas só acontecem no nosso país?
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