domingo, julho 16, 2006

Férias ... mas só para alguns

De uma forma geral, a segunda quinzena de Julho é uma altura óptima para se fazer uma pausa nas rotinas mais ou menos cansativas que nos atingem a todos e para rumar a outras paragens, se possível. Mas isso, infelizmente, não é para todos.

Segundo uma sondagem feita pelo DN/TSF/Marktest, 41% dos inquiridos não vão de férias neste ano de 2006. Dos que ainda tem alguma capacidade para fazer férias, 38,9% não fará mais do que 15 dias de férias sem sair de Portugal, e com um orçamento que não lhes permitirá gastar mais de 500 euros. Apenas 6% dos inquiridos vai repartir as suas férias pelo país e pelo estrangeiro e apenas 5% passarão férias no estrangeiro.
De facto, a coisa não está nada fácil.

Eu bem sei que antigamente não se faziam férias, não havia sequer esse hábito, a vida era direccionada para o trabalho e apenas para isso. Isto, claro está, para a enormíssima maioria da população. Mas com a alteração dos costumes e com uma melhoria acentuada da qualidade de vida das sociedades, as férias começaram a democratizar-se, a tornar-se um hábito e, mais do que isso, a ser uma necessidade para recarregar baterias que permitam aguentar mais um ano de trabalho.

Mas a crise, de há uns anos para cá, instalou-se de tal forma que, como vimos, nem todos têm a possibilidade de gozar uns dias de férias que seja. E é tremendamente injusto que as pessoas que trabalham um ano inteiro não possam disfrutar de um merecido descanso, do corpo e do espírito, ainda que por uns dias.
Como é injusto para os que estando a trabalhar a recibos verdes (pelo menos para alguns) lhes concedam férias mas não lhes dêem o respectivo subsídio.
Como é injusto que os reformados, embora tendo direito ao subsídio de férias, ele seja tão pequeno que mal dê para pagar os atrasados da farmácia e, às vezes, os da mercearia da esquina.
Para já não falar dos desempregados, cuja angústia e desespero bem mereciam uma pausa de reconfortante descanso.
Ao fim e ao cabo, e resumindo, uns quantos milhões de portugueses não vão de férias porque não têem dinheiro. E ponto.

Apesar de tudo, alguns portugueses ainda conseguiram juntar uns cobres para ir uns dias com a família até à praia. E, naturalmente, são legítimas as expectativas que foram criando ao longo do ano para gozar em pleno esses dias de férias.

Assim, alguns, terão imaginado poder dormir até tarde. E é claro que vão poder dormir ... desde que se entenda por tarde aí as oito da manhã. Porque, se tiverem filhos pequenos, seguramente que eles vão acordar cheios de energia e nada preocupados com a barulheira que vão fazer àquela hora da “madrugada”. Se não tiverem filhos, então poderá acontecer que um dos membros do casal insista que não há nada melhor nas férias do que ver o nascer do sol e ir à padaria comprar pão acabado de cozer. Se levarem a mãe ou a sogra, contem que vão ouvir vezes sem conta aquela estafada frase “já são horas decentes para se levantarem”, já que a preguiça nunca foi uma das qualidades mais apreciadas por elas.

Alguns outros, terão talvez sonhado “nas férias ninguém pense que vou cozinhar, vou mas é jantar fora todos os dias”. Claro que a intenção era excelente, porque verdade, verdadinha, quem é que, realmente, está na disposição de passar uma semana ou duas das suas queridas e tão ansiadas férias à volta dos tachos e do fogão a preparar os mesmíssimos pratos que costumam confeccionar em casa? Não, vamos mas é jantar fora, mesmo que tenhamos de esperar umas horas para sermos atendidos no restaurante. A ideia era boa, naturalmente, mas, ao fim de uns dias, e com as despesas a dispararem, não há outra alternativa que voltar para o fogão e deitar mão, pelo menos, à sardinhada ou à caldeirada que eles tanto tinham pensado ir comer lá fora.

Outra excelente ideia, congeminada por alguns, era a de desligarem o telemóvel durante todo o tempo que estivessem fora. Puro engano. Ao fim de dois dias a ouvir a sogra, as primas e os vizinhos da praia, estão já ansiosos para que a porcaria do telemóvel toque, seja lá porque pretexto for.

E porque a vida do dia-a-dia é demasiado rotineira e sedentária, não há quem não pense em aproveitar as férias para fazer exercício, andar a pé ou de bicicleta, por exemplo. A ideia é fantástica e totalmente exequível, pelo menos até começarem a pensar porque é que, afinal, teriam inventado o carro e o ar condicionado. A partir daí, não tarda que, arrumem os ténis, pendurem as bicicletas e se sentem descansadamente numa esplanada à beira mar, a beber um café, a ler o jornal e a olhar “discretamente” para quem passa.

5 comentários:

Anónimo disse...

Bolas! Ainda bem que começei a trabalhar hoje! Que horror... férias! :)

demascarenhas disse...

Ao que nós chegámos, agora todo o mundo acha que tem direito a férias... Bem, agora a sério, espero que as suas férias tenham permitido recuperar da “cansera” de “tanto trabalho, tanto trabalho...” mas, ainda assim, quase que me apetecia apostar que, apesar das “malditas” férias, ainda teve tempo para fazer uns deliciosos brigadeiros. Acertei?

Anónimo disse...

Perdi tanto tempo a comer lapas, bolos de mel, e a beber poncha, que até me esqueci de fazer os brigadeiros... Imperdoável! Vou ter de compensar isto de alguma maneira... Se calhar fazer o dobro ou o triplo da quantidade e partilhar com os amigos!

Anónimo disse...

Uau!

Para início de silly season, este teu post não está mesmo nada silly.


Bem observado. Parabéns.

Anónimo disse...

Ainda não perceberam que já não há aquilo a que se chamava a silly season?
Somos um país de silly season permanente, tanto mais que o Santana Lopes voltou.
Mas o post está bem esgalhado, concordo!