segunda-feira, julho 10, 2006

Opções

Quando se soube, através da comunicação social, que o quarto homem mais rico do mundo, segundo a revista “Forbes”, o Sr. Ingvard Kamprad, o fundador do IKEA, era uma pessoa que hesitava muito antes de fazer qualquer despesa, o mínimo que a opinião pública terá pensado é que o homem era um forreta dos diabos. E, quando se soube que o Sr. Kamprad numa visita rápida que fez a Portugal, ficou instalado numa modesta pensão da Praça da Alegria e, ainda por cima, se deslocou à sua loja de Alfragide de táxi mas que, no regresso, recusou este “luxo” e se deslocou a pé até à Decatlhon, onde esperou pacientemente pela carreira 14 da Carris para o trazer de volta até à sua pensão da Praça da Alegria, aí, a mesma opinião pública já não disse que o homem era forreta, mas que ele era um grandessíssimo unhas de fome, um avarento à séria. Então, um tipo que é tão rico, que até é capaz de não saber o dinheiro que tem, e que em vez de ficar no Ritz que, por acaso, é mais perto da loja que ia visitar, vai dormir a numa pensão de quinta categoria? E uma vez mais a opinião pública foi categórica e decidiu que o homem não merece sequer ter a fortuna que tem.

Mas a questão não é tão linear. É claro, que se fosse comigo, naturalmente que ficaria não no Ritz mas no Meridien, porque simpatizo mais com este hotel e, obviamente, que seria transportado, na ida e na volta por um confortável carro de aluguer, quando muito, por um dos carros da admnistração da IKEA em Portugal.

Mas como eu não sou o Sr. Ingvard Kamprad tento fazer um esforço para compreender porque razão é que um homem que tem todo aquele dinheiro, nunca fica em hotéis com mais de três estrelas e que viaja sempre em classe económica. E a explicação mais aceitável que encontro para o facto, tem a ver, por um lado, com a sua vontade de pretender viver com toda a simplicidade e, por outro, em não querer ostentar o seu dinheiro. Está no seu pleníssimo direito e são opções de vida que devemos respeitar, muito embora possamos discordar delas.

Já agora conto-lhes uma outra história, de uma pessoa com quem trabalhei e que, ao fim e ao cabo, tinha uma opção de vida algo semelhante à do Sr. Kamprad.
A pessoa em causa era o meu director coodenador. Era solteiro, tinha hábitos modestos, vestia com sobriedade e, para além de gostar de viajar, não se lhe conheciam luxos dignos desse nome. Apenas um, gostava de ter os topos de gama de tudo o que fosse electrónico. Como se entende, ganhava muito bem, porque para além do cargo dentro da instituição financeira era, simultaneâmente, presidente de uma outra empresa do grupo.
Pois apesar do desafogo financeiro que todos sabíamos ter, os seus almoços habituais, praticamente em todos os dias do ano, não iam além de uma sandes de atum, de um quarto de água e de uma salada de frutas. E comia diariamente este menú, não porque era barato mas porque era o necessário e o suficiente para ele. Almocei muitas vezes na sua companhia e sentia que ele comia realmente com prazer aquela parca refeição, demasiadamente monótona e incrivelmente baratucha para quem não tinha que contar os tostões no dia-a-dia.

Não se tratava de uma questão de avareza, apenas uma opção.

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