Quase toda a gente reconhece que os rapazes da selecção nacional de futebol foram esforçados, jogaram, ao que parece, o futebol mais criativo do Mundial, conseguiram uma classificação bastante honrosa e, penso, que não se podem queixar da recompensa que lhes foi atribuída. Foram apaparicados por milhões de portugueses, por autarquias que fizeram questão de os receber que nem príncipes, foram até considerados herois antes mesmo da competição começar e, não menos importante, tiveram a satisfação e o orgulho de vestirem a camisola nacional em representação do seu país.
E por todo o empenho demonstrado, foi-lhes atribuído um prémio em dinheiro que, ao que parece, andará à volta dos 50 mil euros. Poucos profissionais terão tido alguma vez na vida a oportunidade de estarem um mês instalados em bons hotéis, a comer do bom e do melhor à conta do orçamento e, ainda por cima, ganharem cinquenta mil, isto, é claro, para além de continuaram a receber os respectivos ordenados dos seus clubes.
Mas, ainda assim, não nos iludamos. É certo que os rapazes estiveram bem, conseguiram um prestigiante quarto lugar na competição mas, na verdade, não atingiram o objectivo principal que era o de serem campeões. E nisto, meus amigos, temos que ser rigorosos e realistas. Numa competição só existe um ganhador, os outros são apenas os que perderam. Costuma-se até dizer que o vice-campeão (que é uma coisa que não existe oficialmente), o segundo classificado de uma competição é, apenas, o primeiro dos últimos. Em todo o caso, a selecção portuguesa, para além de se ter quedado pela quarta posição, conseguiu, na generalidade, uma boa prestação. O que não evitou, no entanto, que na tabela oficial da FIFA descessem de sétimo para oitavo lugar.
Como resumo da campanha, podemos então dizer que tivemos um grupo de jogadores de futebol, que foi apaparicado, vitoriado, endeusado e muito bem pago. Só que, a Federação que os representa, pretende agora que esses mesmos jogadores fiquem isentos do pagamento de IRS relativo ao que ganharam durante o tempo em que estiveram ao serviço da selecção.
Era só o que faltava. Não posso estar mais em desacordo, nem que eles tivessem ganho a estatueta do Mundial. Todos sabemos que qualquer trabalhador que tenha auferido um qualquer prémio pecuniário, paga IRS. Se essa isenção agora sugerida pela Federação fosse aprovada, o que me custa muito a acreditar, tratar-se-ia de mais uma valente discriminação e injustiça em relação aos demais trabalhadores.
Trata-se, pois, de uma questão de bom senso, sobretudo numa altura em que o país passa por enormes dificuldades, bem conhecidas e sentidas por todos e a quem os sucessivos governos não se cansam de pedir grandes sacrifícios. É absolutamente imoral e chocante que a Federação avance com uma proposta deste tipo, que, ainda por cima, iria criar mais uma situação de privilégio numa classe de profissionais que, já de si, é altamente privilegiada.
Se isso for aprovado tratar-se-á de mais uma afronta e uma ofensa a todos os portugueses, e seguramente àqueles mesmos portugueses que andaram durante um mês inteiro de braços no ar, a dar vivas e mais vivas aos que, agora, querem saltar fora e não pagar os impostos a que são obrigados.
2 comentários:
Se o zé-povinho considerou que aqueles jogadores eram deuses, porque é que eles deveriam pagar IRS? Ao que eu saiba, os deuses nunca pagaram impostos...
Eu cá não sei se eles foram, ou são, de facto, uns deuses mas, em qualquer dos casos, não concordo que os pequenos paguem o imposto. Tanto mais que estão em princípio de carreira e os ordenados não devem ser nada de especial...
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