Mas eu falei em restaurante? Se calhar exagerei, porque um restaurante tem normalmente uma ementa, uma carta, um folheto, uma lista, uma ardósia, seja o que for, com a discriminação dos diversos pratos, os do dia, as especialidades e os que não sendo do dia se podem mandar confeccionar no momento.
Pois àquele estabelecimento, as pessoas vão propositadamente para comer o conhecido “Frango da Guia”, que vem sempre acompanhado de batatas fritas e salada. Não há que enganar.
Não quer dizer que não haja alternativas ao frango. Há, de facto, mas a especialidade da casa é o frango assado da Guia, e quase me atreveria a dizer que mais de 90% dos pedidos vão para o frango. De tal maneira isto é assim que há uns anos, íamos a entrar e um empregado atirou-nos de supetão e sem aviso prévio “É com ou sem?...”. Soubemos mais tarde que no seu linguajar, a criatura queria apenas saber se nós queríamos o frango com ou sem piripíri.
Como já perceberam, o restaurante (lá estou eu) é o mais informal que se possa imaginar e não existem ali aquelas (pequenas) coisas que poderíamos apelidar de cortesia, ou de simpatia ou, muito simplesmente, de bom atendimento. Pelo menos quando a freguesia é muita.
Já sabíamos isso quando lá fomos no Verão do ano passado mas, mesmo assim, insistimos na dose. Ao entrar o patrão atirou-nos em jeito de aviso “olhe que hoje isto está um bocado demorado”. E estava, realmente. Na verdade, não se deviam criar grandes expectativas num dia 16 de Agosto, em que havia muita gente a começar as férias e outros a terminar. Apesar de tudo, arranjaram-nos uma mesa quase de imediato. O pior viria a seguir.
Sem que alguém tivesse culpa disso (sejamos justos) é preciso que se diga que tivemos algum azar com os vizinhos de uma mesa comprida que ficava junto à nossa. Toda a gente falava ao mesmo tempo e, para se ouvirem bem, berravam. Os miúdos que ora gritavam, ora choravam, ora corriam entre as mesas dando safanões nas cadeiras mais próximas (as nossas), estavam numa de tocar toda a espécie de “instrumentos” que os paizinhos lhes tinham posto à disposição para se distraírem.
Como se percebe, barulho e confusão não faltaram enquanto esperávamos que nos servissem. Bem, o patrão já tinha avisado que o serviço estava demorado. Mas lá trouxeram umas “azeitonitas”, pão e umas imperiais.
Esperávamos o mais pacientemente que conseguíamos, olhando “enlevados” para o concerto a quatro mãos que mãe e filho executavam com determinação na pele ressequida de um tambor, de onde saiam sons profundos e ensurdecedores.
Por fim, lá veio o frango – sem piripiri, como pedíramos – e aproveitámos para encomendar mais uma rodada de imperiais. Ou seja, encomendar, encomendámos, por diversas vezes e a diversos empregados, mas ninguém nos ligou a mínima, pelo que acabámos por comer os franganitos até ao fim e a seco.
Os empregados corriam entre as mesas, demonstrando muito boa preparação física mas nenhuma eficácia. Os dois filhos dos donos andavam mais ou menos a ajudar a família, mas os resultados eram praticamente inexistentes. Era a confusão generalizada e a perplexidade de quem esperava ser servido.
Quando vi a patroa aproximar-se, retive-a delicadamente e disse-lhe “Isto hoje está um bocado desorganizado, não está?”, ao que ela respondeu “Não me diga nada. Tem sido um entra e sai das pessoas que acabam as férias e as outras que as começam agora e, a juntar a isso, como hoje choveu, as pessoas não foram para a praia e lembraram-se de vir para aqui”
Pois é, não tinha pensado nisso. Ter que aturar todos aqueles infelizes que se lembraram de ir almoçar ao seu restaurante só porque as praias estavam molhadas não lembraria ao diabo. Pobre senhora.
A vida é assim! Então, aquela gentinha de mau feitio não podia ter ido para o cinema, ou para o supermercado? Não, parece que foi combinado e foram todos apoquentar a pobre da proprietária que tem um restaurante aberto ao público e que, supostamente, deveria ter ficado muito contente de ouvir a caixa registadora a facturar mais do que inicialmente previra.
Não querendo abusar da presença dela ali junto de mim, pedi-lhe o favor de nos trazer a carta das sobremesas. Resposta: “O melhor é você ir ali ao balcão para ver ao vivo e a cores as sobremesas que temos”.
E pronto, cá o “você” levantou-se e foi ao tal balcão escolher as sobremesas.
Faltavam ainda os cafés. Com jeitinho, não fosse ele ofender-se, a minha sogra disse ao empregado que passava que queríamos três cafés ao que o rapaz respondeu “Minha senhora, também eu quero muita coisa ... mas como é para a senhora...”
Paga a conta, saímos dali o mais depressa que pudemos, saturados de tanto barulho, confusão e mau serviço e safámo-nos para o ar fresco. Aliviados sim, mas, ao mesmo tempo convictos que iríamos voltar...
E este ano voltámos de novo.
5 comentários:
O frango deve ser mesmo bom!!
A Paula deve ter razão, o frango deve ser incrivelmente bom. A não ser que o voltar a um sítio daqueles seja uma espécie de obsessão. Será?
Não faço perguntas repetidas, mas... Era mesmo frango???
Olha que é preciso o frango ser incrivelmente bom ou, então, és masoquista...
Meus Amigos
Devo confessar que o franganito é bom. É apenas bom, ponto.
Mais do que obsessão ou masoquismo eu acho que o que acontece é mesmo teimosia.
Mas, ainda assim, é muito provável que na próxima continue a não resistir ao chamamento. Vá lá, admito que seja burrice …
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