quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Restos' Gourmet



Quem me conhece sabe da minha relutância em relação à chamada “nova cozinha” ou, “cozinha de autor”. Sem renegar a arte que lhe está subjacente e todo o trabalho, a cor e a organização do empratamento, as minhas desconfianças acabam por me fazer torcer o nariz sempre que aceito um novo desafio para ir a um restaurante que tem um “chef” a comandar a cozinha.


Vamos lá ver, já tenho tido surpresas. Já tenho apanhado manjares que fazem jus à fama com que os nomes dos restaurantes e dos “chefs” são anunciados. No entanto, mantenho as minhas dúvidas e sinto que não estou rendido a essas obras de arte, normalmente com nomes difíceis de pronunciar e que não fazemos a mínima ideia do que é que tratam.


Embora seja moderado no comer, continuo a gostar de pratos à antiga que dão por nomes plebeus como “cozido à portuguesa”, “arroz de cabidela”, feijoada à transmontana” ou carne do alguidar com migas”.


Mas afinal a moda dos “chefs” (e o que eles produzem) é uma mais-valia para a cozinha portuguesa? Será que a nossa cozinha tem um futuro promissor? Não sei. Mas sei que ouvi da boca de um “chef” muito conhecido na nossa praça a resposta à pergunta que formulei: “Não sei, tenho dúvidas. É que cada vez há mais “chefs” e menos cozinheiros”. Tirem as vossas conclusões.


Porém, para que não julguem que, apesar de tudo, eu não faço um esforço, reparem no prato que confeccionei há dias e que dediquei aos meus filhos. Tinha como restos do almoço, uns ovos mexidos e farinheira cozida, juntei-lhes umas rodelas de tomate, uma fatia de pão e umas bagas de uva e … VOILÁ!


Designação do Prato: RESTOS’ GOURMET
Composição:
Eggs em cama de cereais com bagas de uva, carpaccio de tomate e collis de farinheira
E o menu tinha assinatura: Chefs Responsáveis: PAIS’

É que a diferença está nos detalhes …


3 comentários:

Anónimo disse...

Caro demascarenhas,
Fiquei abismado ao ler o seu blog. Primeiro por sua total ignorância gastronômica e depois por sua total inaptidâo na cozinha.
Me parece que seus filhos merecem pratos melhores, ainda que simples e caseiros.
Acredito que os profissionais que praticam a tal "cozinha de autor" devem ser reconhecidos tanto pela dedicacâo quanto pela coragem de expor-se ao erro e às críticas.
Talvez, se ficares em pé por 12 à 15hs, com temperaturas quase desumanas e com uma pressâo psicológica constante da busca por fazer o seu melhor SEMPRE, e apesar de tudo isso, amando o que estás fazendo; talvez assim ponderes um pouco tuas publicacôes.
Ricardo S.

Fernando Gomes disse...

Não fiquei minimamente chocado com aquilo que foi publicado no blog, muito pelo contrário, pois apenas revela uma opinião pessoal sobre o que realmente se passa nas várias cozinhas. Num País onde todos dizem o que querem e bem entendem, não entendo a razão para tanta admiração e crítica, ao invés, as declarações proferidas por alguns políticos da nossa praça provocam um mau estar e uma agonia constante. Agora, sejamos sensatos, pois publicações destas ao pé daquelas que estamos habituados a ver e ler nos meios de comunicação, nunca fizeram mal a ninguém. O sentido crítico é uma faculdade que o ser humano nunca deverá perder, pois só questionando as coisas, poderemos evoluir no conhecimento.
Um grande abraço e com todo o respeito ao colega de leitura anónimo, não leve tão a peito estes artigos, pois o o seu autor é das pessoas mais "críticas" e "atentas" que conhejo.
Bem haja.

demascarenhas disse...

Começo por responder ao Fernando Gomes. Uma vez mais a sua amizade está presente e confesso-me muito honrado por poder contar com ela. Um Abraço forte.

Quanto ao Caro Anónimo/Ricardo S. gostaria de lhe agradecer o seu comentário ao meu post de hoje e dizer-lhe que, sinceramente, não vejo razões para ficar tão abismado. Apenas me limitei a escrever sobre os meus gostos gastronómicos e, por isso, não vejo motivos para censuras. Cada um tem as suas preferências quer se trate do partido político com quem tem mais afinidades, o clube do seu coração ou o tipo de alimentação de que mais gosta. São escolhas perfeitamente legítimas e naturais.
Mas parece-me haver um pouco de exagero ao rotular-me de “ignorante gastronómico” e “inapto na cozinha”. Na verdade tenho alguns conhecimentos na área da gastronomia e, devo confessar, sem falta modéstia, que não me saio assim tão mal como cozinheiro. Pelo menos é o que dizem as pessoas que costumam abancar à minha mesa. E não me parece que o meu “bacalhau com natas”, o “vol au vent de peixe” ou os “lombos de salmão em crosta de azeitona” possam ser considerados pratos menores. Faço uma comidinha simples, tradicional (às vezes mais rebuscada) mas sempre saborosa.
O que eu não entendo é onde viu a minha falta de reconhecimento pelos chefs, pela sua dedicação, aptidões, espírito criativo e coragem com que se dedicam ao seu mister. Pois se até referi no texto o meu apreço pela “arte que está subjacente e todo o trabalho, a cor e a organização do empratamento”. A verdade, pois, é que admiro os chefs de cozinha como admiro os artistas de uma forma geral. Todos eles buscam o seu melhor e, por isso, são dignos da nossa admiração. O que eu disse, e reafirmo, é que “continuo a gostar de pratos como cozido à portuguesa, arroz de cabidela, feijoada à transmontana ou carne do alguidar com migas”. E isso traduz apenas a minha preferência gastronómica e nada mais. Um Abraço