Fazendo ambos parte do mesmo Governo de coligação, o mínimo que se esperava é que as medidas saídas desse mesmo Governo fossem anunciadas apenas pelo Chefe do Executivo. Mas não, como somos um país cheio de originalidades, o Primeiro-Ministro (e Presidente do maior partido da coligação) fez a sua comunicação ao país na sexta-feira às oito da noite (uma declaração de guerra, como lhe chamaram alguns) e o Ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros (e Presidente do partido minoritário da mesma coligação) deu uma conferência de imprensa no domingo. Dois porta-vozes do mesmo Executivo que ainda por cima mostraram que não estão de acordo em coisas fundamentais.
E a forma e o conteúdo dos dois discursos foram completamente diferentes. Passos Coelho foi frio e demasiado vago enquanto que Paulo Portas teve um discurso bem elaborado, consequente, claro e inteligente. Como disse no domingo Marcelo Rebelo de Sousa, um era um programa de televisão a preto e branco e outro era a cores.
Ambos tinham sobre si a necessidade de apresentar qualquer coisa que permita que a sétima avaliação da troika seja (finalmente) positiva. Só que Passos se limitou a debitar um mero conjunto de medidas transversais de limitação de custos que vão agravar ainda mais (se forem avante) a economia, o desemprego e a situação dos cidadãos. Já Portas assumiu que está contra a taxa sobre as pensões, anunciada pelo Primeiro-Ministro na sexta-feira. E sobre este novo imposto anunciado por Passos sobre os pensionistas (que será para sempre e que constitui o mais desumano de todos os impostos e uma quebra de solidariedade entre gerações), Paulo Portas comprometeu-se a procurar medidas alternativas que substituam a nova contribuição sobre as pensões, porque, afirmou, "Quero, queremos todos, uma sociedade que não descarte os mais velhos". E o líder do CDS foi mais longe: assumiu uma frontal divergência com o PSD e dirigiu palavras muito duras à troika.
Resta-nos, agora, aguardar se a intervenção de Portas terá alguma consequência prática, se os partidos de oposição e os parceiros sociais conseguem alterar o que quer que seja e de saber qual a opinião de Bruxelas sobre mais este pacote violentíssimo de austeridade. Para já fica-nos a tal originalidade dos dois discursos e a certeza que a vida da coligação navega em águas muito revoltas.
1 comentário:
Ainda bem que saí a tempo da função pública - Ainda bem que me reformei há quase 3 anos, já saltei a "barreira" e agora na condição de aposentado, já tenho mais gente que me defenda para além do PCP e do Bloco de Esquerda. Agora já posso contar com o PS e com o CDS para me defenderem também para me segurarem o mais possível o valor da pensão que recebo. Mesmo assim ela já foi reduzida: fazem-me pagar para a ADSE; aumentaram-me o IRS e também me cortaram nos subsídios.
Mas os que ficaram e que não aproveitaram para sair da função pública, embora já estivessem em condições de o fazer, estão a ficar pior de ano para ano, "they are all focked" (tradução: eles estão todos lixados), porque já pagaram bastante, continuarão a pagar e qualquer dia até acabam com as aposentações antecipadas e vão ter que ficar no seu posto de trabalho até aos 66, 67, quiçá até aos 70 anos se lá chegarem, apesar de "haver funcionários públicos a mais", conforme dizem os nossos políticos há muitos anos. E por doença, só saem se ficarem com diagnóstico de morte a curto prazo ou acamados e mesmo assim, muitos deles terão que ir a Juntas Médicas em local que lhes será indicado. Alguns deles (os que não tiverem apoio familiar) irão morrer em casa abandonados sem conseguirem receber a pensão a que têm direito e para a qual descontaram, porque já não podem tratar da aposentação e o Estado não os vai procurar. Se for proprietário da casa que habita, passados 13 ou mais anos as Finanças deverão mandar um funcionário a sua casa, a fim de saberem porque não pagou o IMI (aconteceu recentemente um caso destes).
Zé da Burra o Alentejano
Enviar um comentário