Se bem que eu continue a preferir um bom abraço a um bom beijo (beijo social e/ou de amizade, entenda-se) em matéria de beijos muito haveria para dizer. Acho mesmo que o assunto daria uma boa tese de mestrado.
Fui educado por uma família tradicional em que o cumprimento mais comum era a da troca de um par de beijos. Convenhamos que alguns eram muito mal dados. A maioria deles eram dados no ar e não na face, como seria de desejar. Mas havia os outros, os que senhoras (quase sempre as senhoras e, sobretudo, as mais idosas) adoravam: o beijo repenicado (o chamado chocho), ou o beijo lambuzado ou, pior do que todos os outros, aqueles em que "espetavam" os pelitos pontiagudos que se tinham esquecido de tirar. E isso chateava-me.
Mas o normal era, de facto, os dois beijos. Quando me comecei a relacionar com senhoras de um estrato social aparentemente superior ao meu comecei a verificar que a forma normal de cumprimento era apenas de um beijo. Quantas vezes fiquei de cara pendurada à espera do segundo beijo que nunca viria. É a etiqueta, é chique, pensei na altura. O facto é que muitas vezes fiquei extremamente desconfortável quando dava conta que o beijo solitário me deixava de cara à banda.
A tradição portuguesa sempre foi a de dar dois beijos. No entanto, sabe-se que depois da nobreza se ter refugiado em Inglaterra, no tempo das lutas liberais, de lá veio o comedimento saxónico do beijo único – mais simples, mais elegante, mais rápido.
Referia há pouco que um só beijo é uma questão de etiqueta, de ser chique. Mas o que dizer dos franceses (querem um povo mais chique que os franceses?) que se mimoseiam não com um, nem com dois mas com três beijos? Às vezes com quatro, um é que não. Mas também na Holanda onde o hábito é darem três beijos. Bem pode dizer-se que cada país e cada cultura tem gestos e costumes que lhe são próprios.
Certamente que também já passaram por isto, compreendem, portanto, a minha angústia. Angústia e desespero que aumentam quando, em certos casos, as mesmas pessoas distribuem beijos únicos a alguns e a outros dão generosamente dois beijos. É a confusão total na minha cabeça. Alguém merece isto?
A não ser que se adopte definitivamente pelo simples aperto de mão. Evitar-se-iam, assim, muitos embaraços ...
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