Hoje apetece-me contar uma história. Era uma vez um senhor que para ganhar uns concursos de obras públicas “oferecia” (desinteressadamente, já se vê) uns dinheiritos a quem lhe facilitasse a vida, entregando-lhe o negócio de mão beijada, com prejuízo de outros concorrentes. Ou seja, corrompia quem podia decidir. O tal senhor era, portanto, o corruptor e os funcionários, mestres-de-obras, arquitectos, directores-gerais e quejandos os corrompidos. E a vida lá foi passando sem grandes sobressaltos. Todos eram felizes.
Até que um dia, qual João Ratão movido pela curiosidade que o levou a cair no caldeirão, o senhor tentou corromper um determinado autarca que, pessoa séria, não aceitou a tentativa de suborno e denunciou-o. Houve julgamento e o dito senhor – o corruptor – foi condenado ao pagamento de uma multa de cinco mil euros por corrupção activa.
Só que o advogado do autarca, numa entrevista que concedeu, terá apelidado o tal senhor de “corrupto e vigarista”. Está bem de ver que “quem não se sente não é filho de boa gente” e o visado – o corruptor que embirrava com quem lhe chamava corrupto – acusou o advogado por difamação. No novo julgamento, o tribunal achou que a acusação era forte de mais (embora o tal senhor já tivesse sido condenado por corrupção) e condenou o “patife do advogado” a pagar à “vítima” 13 mil euros pela prática de crime de difamação agravada e danos morais.
Vitória, vitória, acabou-se a história.
Não, não acabou ainda. Falta dizer que a história é verídica e o tal senhor, empresário e corruptor assumido, dá pelo nome de Domingos Névoa (o tal do negócio da Braga Parques/Parque Mayer) e o advogado do autarca chama-se Ricardo Sá Fernandes.
E falta também referir que a história tem uma moral: “Afinal, o crime compensa”. É que o malandro do corruptor condenado a pagar cinco mil euros pelo crime que cometeu, conseguiu depois sacar treze mil “a quem o ofendeu tão injustamente”. Com tudo isto, a tenebrosa figura de Domingos Névoa lucrou oito mil euros e deve estar ainda a rir-se a bandeiras despregadas à custa da justiça do nosso país.
2 comentários:
Se eu fosse o Rui Santos, o comentador de desporto da SIC, colocaria a seguinte questão:
“Rui Santos pergunta: que nome é que devemos chamar a um corrupto, CORRUPTO????????”
Essa e outras histórias aqui: Não mais corrupção!
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