Não é para me gabar mas sempre fui um aluno bastante razoável e, por isso, nunca tive problemas com as malfadadas reguadas ou ponteiradas com que alguns professores mimoseavam quem se portava mal ou, simplesmente, falhava. Para os mais novos essa coisa de, no ensino primário e mesmo no secundário, os alunos serem castigados com punições físicas pode até parecer história mas, afianço-lhes, que era assim mesmo. Os tempos eram outros e, não sei se bem ou se mal, o método em uso era aplicado sistematicamente e a maioria de nós tentava esforçada e desesperadamente não falhar para não sofrer as consequências.
“Erraste a conta de multiplicar? Vais levar duas reguadas e vais fazer o exercício mais duzentas vezes”. O simples olhar para a janela ou a conversa em surdina com o colega do lado, podia ser o suficiente para que um ponteiro “voasse” rapidamente até a um braço (ou à cabeça) para fazer o aluno retornar ao mundo dos vivos. Aquilo funcionava mesmo e fazia voltar a concentração.
Talvez a forma não fosse a melhor, por certo que o exagero era condenável, mas a verdade é que os alunos não levantavam grandes problemas aos “profs”. Até porque, depois de terem levado a sua dose na escola, os pais (que davam sempre razão aos professores) em casa se encarregavam de complementar o castigo, juntando mais um par de estalos, quando não se lembravam de outra penitência mais dolorosa.
Outros tempos, como disse. Os alunos, as famílias e a sociedade, mudaram e são agora mais problemáticos. O respeito (nem que fosse provocado pelo medo) foi-se, a autoridade dos professores e dos pais desapareceu e a indisciplina nas escolas é total.
E quando um ingénuo professor teve a ideia peregrina de que uns “tabefes ligeiros” poderiam ser a solução para travar os seus alunos mais irrequietos, e se lembrou de pedir aos pais autorização para pôr em prática a aplicação dos tabefes, o Ministério da Educação decidiu instaurar um processo disciplinar ao professor. E isto não é história, passou-se mesmo numa escola de Azeitão.
É caso para recordar o velho provérbio “Quem meu filho beija, a minha boca adoça”, que, actualizado e adaptado ao que estamos a tratar, pode ser dito desta maneira:
“Quem ao meu filho dá tabefes, tem que ser castigado”
Sem comentários:
Enviar um comentário