Há uns anos estive em trabalho em Maputo. Foi logo a seguir ao fim da guerra civil, quando os efeitos materiais e morais do confronto eram bem visíveis por toda a parte. Moçambique era na altura considerado um dos países mais pobres do mundo e eu tive a oportunidade de constatar as enormes dificuldades sentidas pela população no seu dia-a-dia, porque o dinheiro não abundava e porque nada funcionava em condições.
Lembro-me que num dos prédios mais altos da cidade, havia pessoas que moravam nos andares mais elevados e que não podiam vir à rua simplesmente porque os elevadores estavam parados por falta de manutenção.
Corria o ano de 1994, vivia-se numa situação de pós-guerra, num país demasiadamente pobre em África.
Ontem li uma notícia publicada num jornal cá do burgo que dava conta que em Almada há pessoas que há uma década não saem de casa por falta de rampas nos prédios em que vivem.
Deficientes, idosos que têm dificuldade em movimentar-se e pessoas que estão confinadas a cadeiras de rodas, todos estão enclausurados nas suas casas há anos porque os contrutores e as entidades que deveriam licenciar e fiscalizar as obras se esqueceram do pormenor "insignificante" de incluir no projecto as necessárias rampas de acesso. Só degraus e escadas demasiado inclinadas, ainda por cima perigosas, por escorregadias, quando chove. "Erros frequentes na construção de edifícios" é como justificam o caos em que vivem.
Só os bombeiros conseguem - e com dificuldade - transportar os doentes a uma consulta, à fisioterapia ou a um hospital.
E de nada servem as múltiplas queixas e petições que os moradores estão fartos de enviar às instâncias oficiais. As autarquias continuam sem dar resposta às justas reivindicações de quem lá mora e se sente enterrado vivo.
Estamos em 2010 num país da Europa. Não existem motivos que justifiquem tamanha situação. É indigno. É desumano.
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